Pardo
ROGERIO SANTOS
meu primeiro poema
escrevi num caderno
encapado com papel pardo
era um poema infantil
como o coração de quase todo brasileiro
que carrega poesia no sangue
não era europeu
não era índio
não era negro
lembro que era humano
quando o olhar procura a pele
e era europeu
e era índio
e era negro
e era bem brasileiro
e era judeu
e era árabe
e era também oriental
a cor da pele sob os olhos
que eram verdes
que eram azuis
que eram castanhos
que eram negros
que eram redondos
que eram mestiços
que eram amendoados
que eram puxados
e, o que contava
era a pele sob os olhares
onde se suporta cores
onde o arco é um outro barco
e eram os olhos
do coração de um brasileiro
que marejavam
como tantos
um menino poeta
e sua visão
sob um olhar
de farol
de pele parda
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