Passeio Público
ROGERIO SANTOS
trilhas
e trilhos
de olhares
linhas
de costura
do tecido
sentido
de vais e vens
de cais e trens
setas e metas
frestas e vãos
somam, somos
sãos
/
A poesia é o sobretudo que me cobre. O lado de dentro e o lado de fora. Folha de cima é o nome das terras que eram cultivadas por antepassados de minha família paterna. Da mesma maneira, escrever, colocar minhas idéias viagens e experiências no papel ou armazená-las num sítio, é voltar ao cultivo de raízes das quais sou fiél depositário.
O Desafio
ROGERIO SANTOS
a folha em branco é um grande desafio
a seca, a fome, a desesperança
o-dia-mais-quente-do-ano
a possível quebra da bolsa chinesa
mais um furacão no Golfo do México
o banho de sangue no mar da Dinamarca
a pizza do vagabundo numa rua de Nova York
o foguete que leva Elon Musk para um passeio no espaço
a explosão de um vulcão nas Ilhas Canárias
uma pirâmide malfadada de criptomoedas
a energia que falta e a energia que promete faltar
o inferno que um dia abrigará os malas falhas
o canto de um teimoso bem-te-vi no ipê-amarelo
nada disso consegue me induzir a escrever
tudo isso é pueril diante de uma folha em branco
a folha em branco é um grande desafio
que só aceito enfrentar com a força do sorriso
da mulher guerreira que me encanta com seu canto
(20.09.21)
Modinha do Adeus (dedicada a meu pai)
ROGERIO SANTOS
(para a melodia de Lucas Telles)
dedilhei meu violão - dilacerado
que um coração já tão cansado
pede licença pra parar
e se encantar
viver tem seu momento delicado
quando o presente é só passado
desilusão não alimenta ilusão
eu que me entrevei
em seu olhar de solidão
sinto amor, saudade, gratidão
eu que relutei
em te entregar numa canção
digo a dor, que não