Visualizações

19 abril 2015

542





Curintia e Parmera
ROGERIO SANTOS

Domingo é dia de derby
E também de feijoada
Fui convidado pro jogo
E pra traçar essa danada
Respeito as agremiações
Mas tô de olho é na comida
Depois que rolar a partida
Vencido e não derrotado
Arrotarei feito um porco
Tal fosse a finada iguaria
Farei soltar meus rojões
Como só um gambá o faria
E a culpa será dos feijões
Para os quais peço expulsão
E apelo à arbitragem:
Se a latrina é o campo de jogo
Que não haja impedimento
Que o final seja o bom clássico
E não prevaleça o entrave
Que quando a bomba sair
O tiro viaje certeiro
E a "merda" não bata na trave

09 abril 2015

541



Que Chico não veja
ROGERIO SANTOS

aquela moça
de adorno poético
cravado na pele
esfinge na boca
lascívia e olor

aquela moça
de distância confusa
entre os pés e a nuca
entre o não e o nunca
entre o já e o até

aquela moça
de relógio invisível
na névoa fria
com choro de flauta
com toque de flor

aquela moça
de cepa sublime
de olhar terra roxa
compassos certeiros
ataques espertos

aquela moça
tem nela poesia
que dá uma canção
(que Chico não veja
que entorna no chão)

/

05 abril 2015

540



Via Crucis
ROGERIO SANTOS

o poema é meu calvário
é onde me entrego à cruz
do escasso vocabulário

cada palavra é um prego
meu sudário é um dicionário


04 abril 2015

539




Pardo
ROGERIO SANTOS

meu primeiro poema
escrevi num caderno
encapado com papel pardo

era um poema infantil
como o coração de quase todo brasileiro
que carrega poesia no sangue

não era europeu
não era índio
não era negro

lembro que era humano
quando o olhar procura a pele

e era europeu
e era índio
e era negro

e era bem brasileiro

e era judeu
e era árabe
e era também oriental

a cor da pele sob os olhos

que eram verdes
que eram azuis
que eram castanhos
que eram negros

que eram redondos
que eram mestiços
que eram amendoados
que eram puxados

e, o que contava
era a pele sob os olhares
onde se suporta cores
onde o arco é um outro barco

e eram os olhos
do coração de um brasileiro
que marejavam

como tantos
um menino poeta
e sua visão

sob um olhar
de farol

de pele parda

/

02 abril 2015

538



Tríade
ROGERIO SANTOS

meu sim...
meu não...
sempre vestem reticências
são de triangulação
amantes endiabrados
do talvez...