Tapete Mágico
ROGERIO SANTOS
Lá pelas bandas de Minas
No meio dos mares-de-morros
Dizem que mora um caboclo
Que fez um tapete que voa
Não tenho cara de besta
Tenho ouvido calejado
E fui conferir ligeiro
O dono desse legado
Já sabia onde era Minas
Por famoso doce e queijo
Pelas obras mais diversas
Por contos de sertanejos
E pelas belas mulheres
Que abundam por suas ruas
Dizem que são mais de dez
Pra cada homem que atua
Famoso na região
Ouvi dizer que esse tal
Tinha por Patrocínio
A sua terra natal
Mas será o Benedito?
Fazer tapete que voa?
De fato não acredito
Mas tinha ouvido uma loa
E mineiro tem um ritmo
Que segue curso de rio
E rio só é verdadeiro
É água dançando no cio
Quando o nativo proseia
É forte que nem cachoeira
Mas se fala brando e lento
Vê de longe a cabeceira
É soneca e pasmaceira
Depois de uma cachacinha
É viola e tamborzada
Na festa da padroeira
E falando em padroeira
Procurei por Patrocínio
E achei coisa engraçada
( Já viu cabaço de freira? )
O mapa das terras mineiras
Parece uma máscara adunca
Típica cara de bruxa
Num carnaval de Veneza
E Patrocínio onde fica?
Bem no meio do nariz
Por onde circula esse aroma
Carregado de beleza
Eu gostei logo de cara
Dos pés de jabuticaba
Das ladeiras e botecos
Um quintal que não se acaba
Perguntei pela cidade
Pra toda gente que vi
Se ainda morava ali
O dono da habilidade
E toda gente dizia:
- Amigo, ele aqui vivia
Até que num dia calmo
Partiu com o seu tapete !
Procurei pela família
Até deparar no portão
Era o lar de Dona Diva
A oficina do artesão
Foi lá que fiquei sabendo
Das estórias do menino
Que desde muito bem cedo
Dominou tecido fino
Trabalhou nesse projeto
Com astúcia de arquiteto
Costurando ponto a ponto
O mais requintado tapete
A linha era de palavras
O tear de folhas brancas
A tinta de madrugadas
Lembranças de sua gente
Num dia de revoada
Partiu com a passarada
Foi poesia pelas nuvens
Ganhou mundo na tangente
( Em homenagem ao poeta mineiro Nathan de Castro )
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