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29 janeiro 2007

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A voz e o violão
ROGERIO SANTOS
( Para Chico Pinheiro e Luciana Alves )

Quando duas almas se encontram
Nas notas de uma canção
Disparam luz no infinito
Camarinha de bordão

Como a vela tem o vento
E vive por esse dom
Guarda uma voz feminina
Os anseios do violão

De mãos dadas atrelados
Engravidados de som
Música e amor dedilhados
São caminhos de canção

Se enamoram pelo espaço
Destino de decibéis
Amplificando compassos
Juntinhos ganhando o céu

Por entre estrelas, satélites
Ondas de amor pelo breu
Até chegar aos limites
Nos braços de Deus e ateus

Quando uma voz feminina
E os acordes do violão
Sabem que são pela sina
Ritual de comunhão

Os dedos que tocam as cordas
Com carinho e vibração
Beijam a boca de quem canta
Numa escala ao coração

Quando duas almas se encontram
Nas notas de uma canção
Buscam na voz feminina
Todo anseio de amplidão
/

19 janeiro 2007

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Lua de fel
ROGERIO SANTOS

um gozo travado na língua
no estanque a artéria da sina
pousada nos ombros a cisma
no rosto o sorriso escachado

vértice olhar de medusa
espalha um abalo sísmico
e recorrente me empedra
duramente fragmentado

15 janeiro 2007

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Paragem
ROGERIO SANTOS

Tenho os olhos cheios de verde
De imaginar densa mata
Lindos montes e campinas
E um leve frescor de cascata

Tenho os olhos cheios de verde
Roubados de um lindo vestido
Um sol numa tarde chuvosa
Num recanto interior

Os olhos são postos à sombra
Da involuntária paragem
Onde muito se resguardam
Das marcas desapegadas

O verde e um corte no tempo
Pariram uma borboleta
Num balé imaginário
Fazendo da mente um pomar

11 janeiro 2007

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Vice-verso
ROGERIO SANTOS

ofereço mil abraços
vinte e tantos afagos
várias lambidas na nuca
algumas mordidas no glúteo
um bom "cheiro" no pescoço
leve dentada no mamilo
cafuné de duas horas
massagem com óleo de amêndoas
olhar certeiro, devotado
um cesto de frutas frescas
quem sabe canção relaxante
travesseiro de plumas de ganso
e um incenso de macela
mas nunca me negue seu beijo
com todas as suas bocas
infinito enquanto duro

10 janeiro 2007

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Ciranda Caravela
ROGERIO SANTOS

O mundo é um grande Portugal
Seja gigante ou pontual
Mando um abraço-brasil
( Quica aqui )
Quica qui, quica ali, colá

Seja soldado ou general
Admirável almirante
Navegador contumaz
Somos filhos da língua nau

O mundo é um grande Portugal
Quem vem costurar meridianos ?
Ter hemisférios paralelos como cais
E um sorriso por litoral ?

Pra quem tá mal, Macau
Prá quem não sorri, Dili
Prá quem se benze, Bissau
Prá quem alua, Luanda

Prá quem tá puto, Maputo
Prá quem não crê, São Tomé
Prá quem tá na boa, Lisboa
Prá quem entra na gandaia, Praia

Desoriente saudade espalhada
Nos quatro cantos desse mundo
Soprando um fado na proa da alma
Como um beijo na Índia, em Goa

07 janeiro 2007

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( foto: Rogerio Santos )

Hipotenusa
Texto: Rogerio Santos


lanço um olhar retilíneo sobre o horizonte de casas um quadro de altivez financiada num prédio de periferia estou acima não se constata outra coisa canta um cego rabequeiro “o sertão já virou mar” e sou deus e sou nenhum contemplo as luzes paulistanas imagino confins pontilhados na loucura surreal densidade demográfica um ponto nas reticências nas entrelinhas da frase que não se acaba em Penha-Lapa parágrafo e letra maiúscula mas deixa perguntas no ar muito mais que nono andar nego cio na solidão no pensamento negocio em linha reta sobre vidas e vigas no céu da terra prometida