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25 dezembro 2014

527


Feito Samba
ROGERIO SANTOS
(para tema de Walter Martins)

Quando o amor é feito samba
Não tem hora pra acabar
Dita a regra, vira o jogo
E quando parte, quer ficar

Se dobrar aquela esquina
E a saudade se achegar
O encanto vira pranto
E é o amor quem vai sambar

É que o amor é feito samba
Meio alegre e meio triste
Feito os passos de uma dança
Numa trama de tear

Todo amor é feito samba
E a cadência, a gente dá
É no encontro de dois corpos
Inventando outro lugar

Um lugar que tem poesia
Feito em letra de canção
Atrelada à melodia
Quando o céu parece o chão

Meu amor é feito samba
Quando cai na quebradeira
E a cadência é sincopada
Porque a alma é brasileira













24 dezembro 2014

23 dezembro 2014

525



Pensata
ROGERIO SANTOS

No Brasil tem muita gente
que deveria tirar a roupa
e vestir um batente

22 dezembro 2014

524




Pensata
ROGERIO SANTOS

O tempo passa
eu tento
quando a vida me amassa
molho a alma na chuva
e estendo no vento

21 dezembro 2014

523





Rimas e Desencontros
ROGERIO SANTOS

as delicadezas
não combinam com o horário
as sutilezas
não combinam com o concreto
as gentilezas
não combinam com o sumário
as correntezas
não combinam com o decreto
as realezas
não combinam com o salário
as miudezas
não combinam com o universo
as redondezas
não combinam com o operário
as riquezas
não combinam com o adverso
é a vida que segue meio confusa
em rotatória de rimas e desencontros



20 dezembro 2014

522





Metades
ROGERIO SANTOS

meu amor é tão grande
que dá a maior bandeira
tão grande, tão grande
que invade qualquer cantinho
[fresta, furo, fenda, oferenda]
metade do copo vazio
[água que carrego no sangue]
metade do copo cheio
[água que encanta meus olhos]
fica bem se tem barulho
fica bem em profundo silêncio
meu amor é tão imenso
que meu estado indisfarçável
é de permanente gratidão
beleza pura [ou com limão]

19 dezembro 2014

521





Pensata
ROGERIO SANTOS

pomar de alimento orgânico,
a poesia, quando é cultivada,
dispensa agrotóxicos.

18 dezembro 2014

520



Pelo Cano
ROGERIO SANTOS

canta Cantareira
dá pó na garganta gritar tuas fontes
que sina de morte de lama te cala
que lama de sina de morte me fala
-"não vais faltar, não vais faltar"

tomba a minha casa
teu chão que me hidrata um sol que te arrasa
que sanha que tipo de peixe te empala
que cena que pira que piracema te rapta
- "não vais faltar, não vais faltar..."

canta Cantareira
na voz sufocada de mil carpideiras
um cisne que nada na última gota
que rola do rosto feito cachoeira
- "não vais faltar, não vais faltar..."

tomba a minha casa
Na TV, na ilusão, na mentira do não
Na questão dos papéis do último pregão
Na certeza do tiro que fecha o caixão
- "não vais faltar, não vais faltar..."

até hoje, amanhã, ou no próximo ano
um cano é o que sobra para o paulistano.












17 dezembro 2014

519

foto João Paulo Gonçalves


Pensata
ROGERIO SANTOS

o tempo
como é relativo
quando é intenso

16 dezembro 2014

518


Pensata
ROGERIO SANTOS
a vida
é feito massa de modelar
- desista 500 vezes -
mas divirta-se ao recomeçar

15 dezembro 2014

517


Papo Cabeça
ROGERIO SANTOS

minha cabeça vai bem 
equilibrada em cima do corpo
minha cabeça até que zen
estranha a lentidão com quem me movo
um corpo em nós e uma cabeça veloz
cabeça olímpica com pernas de Usain Bolt
as pernas em trote na cadência dos 20 volts
mas nada evidencia ruptura ou curto-circuito
tudo indica que seguem juntas até a morte
é um tradicional casamento por conveniência
com a cabeça amante da preguiça
e as pernas amantes da paciência



14 dezembro 2014

516



Euridiciana
(para o tema de Italo Peron)

quando o amor partir
sem poder voltar
corte o fio do tempo

queime tudo o que ferir
guarde um derradeiro olhar
tudo tem começo e meio
e o fim é um novo esteio pra recomeçar

se a dor da partida teima em não ter fim
nem toda saudade insiste em ser ruim
não caia na tentação de olhar pra trás
que o choro vem do jeito certo pra hidratar

entenda que saudade é feita de esperança
e dentro de toda esperança há vida
e onde há vida mora o amor
que, quando a tristeza for
brotará toda a beleza
a essência que ficou

ouça o som da valsa
como fez Vinícius
sinta o seu caminho
pronto para um novo amor

(pronto pra recomeçar)

13 dezembro 2014

515




Avenida da Liberdade
ROGERIO SANTOS

a Avenida da Liberdade
está sempre congestionada
e é proibido estacionar
na Avenida da Liberdade

na Avenida da Liberdade
não há faixa de segurança
se entramos na contramão
da Avenida da Liberdade

a Avenida da Liberdade
tem sempre sinais fechados
e vias de duplo sentido
na Avenida da Liberdade

na Avenida da Liberdade
as calçadas são estreitas
em conversões à direita
na Avenida da Liberdade

a Avenida da Liberdade
é cheia de transversais
e muitas tergiversais
na Avenida da Liberdade

na Avenida da Liberdade
alguns tem olhos puxados
muitos tem olhos fechados
na Avenida da Liberdade

a Avenida da Liberdade
une o Centro ao Paraíso
da utopia ao conciso
é a Avenida da Liberdade

na Avenida da Liberdade
entre um lamento e um lamen
dobram à esquerda os que sabem
da Avenida da Liberdade

a Avenida da Liberdade
não reproduz a minha rua
nem cruza a minha cidade
a Avenida da Liberdade

11 dezembro 2014

514


Entremeio
ROGERIO SANTOS

os sons, os sonhos, os sinos, as sinas, as somas, as sílabas, os sinais.
tudo o que sibila alça voo rompe o teto da cabeça que reluz e é ouro,
tudo vaticina que alucina, e aterriza sobre o tempo, sobe e desce, agoniza e não.
nada quer saber de ter sentido, verbo é sexy, é sexo, cama e comprimido.
quer o sono do após ou quase, aquele momento em que o nexo é o instante


10 dezembro 2014

513


Pensata
ROGERIO SANTOS

por que, porque, por quê ou porquê?
não há dúvidas
o que importa mesmo são as perguntas

07 dezembro 2014

512



Achados & Perdidos
ROGERIO SANTOS

São Paulo é uma questão complicada
e a resposta é de múltipla escolha
:
quem é safo vai na letra
quem se arrisca mete um chute
quem se encontra vai na encolha
quem se acha cai no embuste



06 dezembro 2014

511



Ato
ROGERIO SANTOS

o meu momento
é só poesia em movimento

meu corpo nem sempre fala
mas o olhar é todo voice
nascente em fonte verdana
de tamanho dezesseis

o passado e o futuro
o ato e a consequência
e quando vi
já há teia

no momento



04 dezembro 2014

510


Pequeno Tratado Biodegradável
ROGERIO SANTOS

o corpo é poesia em forma de carne,
o cerne.
o poro que expele o que não é contido,
o siso.
a boca revele o que não ignora,
a hora.
os pés reinventem o próximo passo,
o ato.
os dedos compilem o que não se escreve,
o leve.
o peito se abra sem muita demora,
agora.
os olhos naveguem estrelas e luas,
aflua
os lábios incensem perfume de aurora,
aflora.
o poro e a boca, os pés e os dedos,
segredos
o peito e os olhos, os lábios e o corpo,
conforto
a carne é poesia em forma de cerne,
externe
a carne é poesia em forma de cerne.
.

01 dezembro 2014

509



Não vai ter Copa
ROGERIO SANTOS

disseram:"não vai ter copa"
disseram, (mas só que não)
ô meu Deus, meu Deus tem dó...
tô sobrando de zureta

eu queria me mudar
para fora do planeta
eu já não aguento mais
esses malas de corneta

já clamei pelo Senhor
já chamei pelo capeta
já rodei de bar em bar
feito um pião carrapeta

Viracopos e Dubar
e meu sono de veneta
agora de tanto tretar
ganho fama de careta

eu só quero descansar
como um santo picareta
protetor auricular
e um remédio tarja preta

hoje ninguém vai sambar
na frente da minha mureta
nem que eu tenha que pagar
um amigo proxeneta


hoje ninguém vai sambar....
ah... não....
quem dorme num barulho desses?

22 novembro 2014

508



Perto
ROGERIO SANTOS

(musicado por FHERNANDA FERNANDES)

perto é distância
perto, tem chão
quando por perto
tem solidão

quando por perto
tem os meus olhos
na tua pele
perto das mãos

perto é tão longe
perto é talvez
perto é amarra
que não se desfez

quando por perto
paira uma dor
feito um aperto
feito de amor

perto um apelo
do meu coração
só quer o sim
distante do não

19 novembro 2014

507

(foto de João Paulo Gonçalves)

Beira de Lagar (3° poema)
ROGERIO SANTOS

outono no ar
as folhas esperam pelo chão
as folhas se espalham
espelhos de um voo temporão

qual folha que voa para o não
na "Folha de Cima" sinto o ar
da terra nos olhos de meu pai
que foram morar noutro lugar

a folha cultiva meu olhar
no chão de uma "beira de lagar"
é o voo do sonho de meu pai
no ar, já no céu, perto do chão

é folha tão boa de bailar
as folhas já sabem que voltar
é verbo que não se aplica mais
e cuidam de borboletear

13 novembro 2014

506



Na Conde de Irajá
ROGERIO SANTOS

Tenho um amigo de grande coração
Que nunca pôs os pés num hospital
Troca o dia pela noite e o violão
Paga o dobro e manda outro em seu lugar

Dia desses teve uma palpitação
Ao ver uma morena requebrar
Foi sururu desses de enturvar visão
No botequim lá da Conde de Irajá

Aí não teve jeito, nem deu pra correr
Quando o bicho pegou e a ambulância lá
- Quem chama o doutor? Quem manda chamar?

Ele que é do samba e nunca negou
Mesmo vivendo essa extrema situação
Pediu pelo Belmiro o seu perdão
E cochichou em um tom particular

“Eu prefiro até morrer no chão
Do que ir prum corredor de Hospital
Se for a hora, me leva pro São João
E no velório é pra servir “Original”

Aí não teve jeito e nem deu pra correr
Quando o bicho pegou e a ambulância lá
- Quem chama o doutor? Quem manda chamar?

Foi aí que alguém gritou – ollvide
Quem dá conta é o doutor Carlos Gomide
No dedilhado de mulher, de violão
Esse sabe tudo de anestesiar

Foram chamar o distinto doutor
Que tranquilão fez logo se chegar
E como tal, deu logo solução
Porque o samba não pode parar

Não sei ao certo como o caso acabou
Mas essa história eu tinha que contar
“Doce de Côco”, “Água de Beber”, "Sei lá"
...sei não.

Sei que a morena
Ele arrastou pra outro lugar...

23 outubro 2014

505



Cristalino
ROGERIO SANTOS

o grão e as asas
o preto e o branco
o pó e o estilhaço

o peso vence o ar
como o tempo voa

a turbina é o olhar
o amor é o espaço
e o que era pedra
é areia e saudade

um cismo teimoso
um som de concha
e a bruma no ouvido

tudo são flores e Flores
nas lentes silentes
do mais cristalino

08 outubro 2014

504



Pensata
ROGERIO SANTOS

quem "se acha"
se perde justamente do grande barato de todas as coisas:
- a procura.

02 outubro 2014

503



Ouvidos Absolutos
ROGERIO SANTOS

tenho inveja de quem toca um instrumento
por isso canto sempre que posso
embarco em poemas
e flutuo

tenho inveja do instrumento nas mãos de quem toca
por isso encho meu peito de ar
e devolvo a poesia
que respiro

tenho inveja de quem tem ouvidos absolutos
para quem abro os olhos do meu coração
dedico palavras
e orações

24 setembro 2014

502



Mercado das Flores
ROGERIO SANTOS

fui ao mercado das flores
me enchi de poesia
e não gastei um tostão

tudo que levei foram cores
riqueza nos olhos
dinheiro não compra paixão

16 setembro 2014

501



Despetalar
ROGERIO SANTOS

tão bem te quero
também te quero
tão bem te quero
também te quero
tão bem te quero
também te quero

tão bem 
também
zen

07 setembro 2014

500



Aquele Menino
ROGERIO SANTOS

o menino que carrego
tem terra sob as unhas
tem fogo nos olhos vermelhos
e queima de cara pro sol

o menino que carrego
tem pé cascudo e descalço
o corpo magrelo e suado
de tanto correr e bater cara

o menino que carrego
é ligeiro feito os sábios
é sábio feito os cegos
é cego feito os poetas

o menino que carrego
sabe que nada cai do céu
quando muito, chuva e pipa
e passa cerol na linha da vida

o menino que carrego
muito sabe quem me carrega
pula-carniça ou mãe-da-mula
pique-esconde e cabra-cega


30 agosto 2014

499



Vermelho 
ROGERIO SANTOS

água, caia do céu
e faça poesia concreta
água, molhe minha boca
e irrigue o meu coração
represa de líquido e sangue
será que mereço perdão?

alma de terra molhada
vermelho poeira e argila
chuva que lava o meu rosto
é música que beija o chão
tem cinza bem onde era verde
será que teremos perdão?

o ocre no olhar das pessoas
um corpo que verte o calor
são ondas sonoras, sirenes
nas ondas dos rios de verão
é a vida de curso imperfeito
que sinto em perene vazão

"é pau é pet
é o fim do caminho
um resto de toco
de outra construção"

21 agosto 2014

498



Hai-Carma
ROGERIO SANTOS

a vida é o caminho,
o olhar é a poesia,
e o amor é a bússola.

10 agosto 2014

497



Pensata
ROGERIO SANTOS

Falhas não me metem medo.
se por um lado, tentativa e erro,
por outro, é a Terra em movimento.



31 julho 2014

496



Meia Estação
ROGERIO SANTOS

o céu é sempre azul
a terra é marrom-lilás
é o contraste em movimento


a seiva no peito de selva
é língua de cores nos olhos
no vermelho inesperado das folhas


somos sempre verdes
o maduro está no tronco

nem primavera, nem verão

o fruto é de meia estação

24 julho 2014

495



Lápide
ROGERIO SANTOS

era um cara com muita sede de vida.
mas bebeu demais,
e morreu logo em seguida.
(ich...)

03 julho 2014

494




Pensata
ROGERIO SANTOS

poesia é feito bumerangue.
experimente jogar no ar e aguarde:
na volta, ela te pega bem no meio do peito


/

27 junho 2014

493



Banho de Chuva (2)
ROGERIO SANTOS

evaporo
viro nuvem
e chovo no seu telhado

um barulhinho bom
o sono mais gostoso
e o frescor da brisa
na exata medida

se em todo caso
for o caso
e acordares

vem pro quintal
e aproveita
que não é todo dia
que a chuva (é) chama

17 junho 2014

492



Automar
ROGERIO SANTOS
(Musicado por LUISA TOLLER)

viver é questão de embarcar
o leme é mira de olhar
o rota é ponto de ligar
a onda é pista de bailar

o amor é conta de somar
o bom tempo é saber contornar
a fome é lição de pescar
o dia é explosão de azular

a noite é manto de estrelar
a poesia é razão de cantar
e o cais é o jeito de sonhar
no mais, é coragem e remar

que a vida é mar, é mar, é mar

05 junho 2014

491



Granizo
ROGERIO SANTOS

há pedras que rolam no rio
no sorriso que entregamos
não são simples fragmentos
quando chove, chove forte

no vento incomum te bateu
um pássaro que não traça planos
a água que escorre em seu corpo
não é lágrima, vem doce

e bem por isso
quero moça no trapézio
que se sabe arrebatando encostas
areia erosão no olhar chiste

aquele vento, voz de ontem
chuva frontal, frente fria
granizo num copo de uísque
de derreter feito argila

é água e evapora no rosto
condensa uma nuvem menina
é chuva de intensa alegria
de amalgamar sedimentos

27 maio 2014

490



Rio
ROGERIO SANTOS

o danado do tempo passou
e riu na cara da minha inércia

e foi agudo feito pedra

só não sei se ele viu
que eu também - rio

22 maio 2014

489



Próximos Planos
ROGERIO SANTOS

mesmo que a cerveja vire um guaraná
e a noitada seja um vocábulo no dicionário
mesmo que a coxinha vire bolinho de arroz integral
e que a esbórnia seja uma vaga lembrança zen
a amizade há preservar a forma e o prazo de validade
e que a falta de sal seja apenas uma recomendação médica
que obviamente, burlarei com toda minha sede revolucionária
aplacada em um copo generoso da mais autêntica caipirinha de pinga

13 maio 2014

488



Sampa 460°
ROGERIO SANTOS

a cidade
ácida cidade
a cidade não tem culpa
a cidade não
a cidade é espelho
e espalho pra espanto de espantalho
me desculpe
a cidade não tem culpa
a cidade não
a cidade é espelho
a cidade é você
é você quem a esculpe
a cidade é espelho
e espelho não tem culpa
do que vê

07 maio 2014

487



Fábula
ROGERIO SANTOS

a lagarta entrou no casulo e
passado algum tempo
virou borboleta

conta que as asas
ganhou de um poeta

o mesmo que fornece luz aos vagalumes
faz pintura personalizada em joaninhas
e costuma dar aulas de canto para cigarras

24 abril 2014

486



Lei do Gerson
ROGERIO SANTOS

Quem mostra a sola não perde ponto
Quem liga pra bola é foca e tonto
Pagou ingresso o problema é seu
No campeonato o apito é meu

Quem dita a regra é meu tribunal
Ainda por cima se o Flu tá mal
Tem doze grandes e o resto é manha
Escolhe algum pra boi de piranha

Rio sexta é "cesta de 4 pontos"
Mão Santa não era o Oscar e pronto?
Se todo Schimidt é bom de bandeja
A champagne gela no "ora veja"

A Lusa é curda, joga pedra nela
A Lusa é o povo, o problema é dela
Quem vem de toga no picadeiro?
Na Rua da Ajuda, Rio de Janeiro

Se dentro de campo o meu gol não vem
Armo a arapuca e "vem cá neném"
Um Feliz Natal - mundo é dos espertos
Que no futebol vale a "lei do Gerson"


19 abril 2014

485




Timo
ROGERIO SANTOS

com a poesia
essa língua de criar imagens
essa arte de caçar palavras
essa artimanha de tramar destinos
essa nudez aparente no fio da meada
ainda vamos argumentar um novelo
e com as mãos atinadas tecer uma rede
que amarrada com as cordas vocais
vai ninar em nós, pra valer, com desvelo
o sono bom da própria vida

04 abril 2014

484



Biografia
ROGERIO SANTOS

tuas unhas negras
teu retrato em branco e preto
e vi nisso uma pergunta

se queres, mulher, poesia
diga-me com os olhos
que sais tua boca saliva

minha língua de poeta
de laborioso esteta
quer saber como te livro

calmamente
poro à poro
um alfabeto traduzido



31 março 2014

483



Cisco
ROGERIO SANTOS

para viver um grande amor
não há fórmula nem método
mas o começo do acerto
é ter coragem de olhar no olho
quando se mira num espelho

17 março 2014

482



Do Querer
ROGERIO SANTOS

(musicado por LUCINA CARVALHO)

da alma
quando parece que pula pra fora do tubo do topo do corpo
quero a sensação

da fala
quando a palavra exata escapa e estala estampada na língua
quero a razão

da calma
quando se joga a última cartada a última dentada no prato predileto
quero o tesão

da vida
quando se canta com força divina proparoxítona dom de poesia alforria
quero o pulmão

do medo
quando se reprime a ideia a lâmpada o sonho do gênio do tolo do tão
disso
quero é nada não

08 março 2014

481



Pensata
ROGERIO SANTOS

...de tanto saber que não podia,
"deixei para trás" um rastro de poesia.

27 fevereiro 2014

480



Chão e Céu
ROGERIO SANTOS

vejo as nuvens esparsas. enquanto trabalho e o dia passa,
meu suor evapora. o tempo todo é chão e céu, azul e cinza. 
e a chuva quando vem, é como a vida, no ciclo. 

de exato, o ponteiro pula um segundo, e tudo foi. 
duas ou três gerações e nada mais restará.
mas não se afobe não, que nada é pra já. 
quem apurar os sentidos, decerto saboreará.

12 fevereiro 2014

479



Versos Brancos
ROGERIO SANTOS

meus anseios são franc
os meus argumentos são manc
os meus lampejos são tranc
os meus versos são brancos

meus impulsos são tant
os meus recortes são chanfr
os meus acordes são prant
os meus sonhares são bancos

os meus lugares, remans
os meus olhares são mant
os meus deuses são bant
os meus sabores, acalantos

os meus dizeres, esperant
os meus prazeres, recant
os meus silêncios são cant
os meus amores são santos

03 fevereiro 2014

478



Exato
ROGERIO SANTOS

exato:
palavra com som de guilhotina


assuma que é sinônimo de utopia
ou troque o dicionário 

pelo livro de geometria.