Visualizações

29 outubro 2019

576




Gangorra
Música: Rogerio Botter Maio
Letra: Rogerio Santos

(I)
ela alucinou
nem percebeu que se apegou
que se apagou e se encolheu
e quando aconteceu

pôs seu coração numa roda gigante
era tão frágil

(II)
ela delirou
ensandeceu e se entregou
não perguntou nem respondeu
e quando aconteceu

lá 
onde ela imaginava uma roda gigante
era uma gangorra que nem se moveu
a solidão bateu

(III)
ela duvidou, estremeceu
nas se acalmou
se perguntou e respondeu
e quando aconteceu

agora só
nem se lembrava da roda gigante
na sala de espelhos se reconheceu

um turbilhão varreu
o espelho que era meu

/

24 agosto 2019

575




Água Mole
ROGERIO SANTOS

tudo que o amor toca
está solto
é mar em ondas
e sol em sombras
é água fresca
serpenteando caminhos
ilusão de ótica
em olhos marejados
e não deixa dúvidas
de tantas que são
cabem todas elas
numa mesma erosão

/

05 maio 2019

574




Samburá
Letra: ROGERIO SANTOS
Música: IAN FAQUINI

Quando o vento vem pra valer
Marinheiro que cai no mar
Olha o céu, sabe a sua lei
E as histórias que te contei
Halo longe na lua cheia

Tempestade não tem rumor
vem no tempo que ela quiser
E o velacho há de virar

Tempestade não tem rumor
É na lenda que vai viver

Tempestade não tem rumor
E a madeira que cai no mar
Cadafalso há de virar

É o barco seu grande amor
Gira o leme sem duvidar
Vê estrelas num céu inteiro
Tem os olhos de samburá
Tão brilhantes que vão cegar
  
Vê um peixe-mulher moreno
Marinheiro quer namorar 
É o corisco que desejou
Tem um cheiro de enfeitiçar
Tem o canto do sabiá

Deus do céu é quem salve ele
Que a sereia já vai levar

Marinheiro é um beija-flor
Tudo é doce no seu mirar
Envolveu-se foi por inteiro
No meio do seu enleio

Esse vento que vem de lá
Essa lenda quem vai soprar
Marinheiro que cai no mar
Acha sempre que vai voltar
Morre dentro do seu olhar



09 abril 2019

573


Seanger
ROGERIO SANTOS

segue a vida, caminho de rio, por entre mistérios de colinas e florestas, insetos e aves, medos e meandros, que não impedem o que vai desaguar no mar. o azul é imenso, engole e carrega sonhos e mágoas, domador de tempos e velocidades, minimizador de ruídos. é grandeza de conteúdo sem tradução, despreza os sentidos e afoga palavras e silêncios. o curso da vida é um poeta, e o mar, é uma mulher quando canta.

02 abril 2019

572



Ilustre desconhecida
ROGERIO SANTOS

(1)
Foi como mergulhar
Numa abissal brasileira
Pronta pra despertar
Quando o sono revela

Sábia de me iludir
Inventar a verdade
Ser, não ser, perder, procurar
E perguntar: quem sabe?

(2)
Na hora de entregar
O meu olhar de querela
Décimo quinto andar
Vou saltar da janela

Pensam que vou cair?
Sou mulher e arandela
Sei brilhar e vou flutuar
A valsa vai por ai

Refletir as estrelas
Ser o chão às avessas
E na copa de uma sumaúma
Um trapézio de cordas falsas 


Pra enfeitar a praça

E o viço que virá, seguirá
Mesmo se o mundo esquecer
Alguém dirá: - Ir e vir, ir e vir

Seguir!

(3)
Quando for decifrar
Minha aflição paralela
Ninguém há de calar
Tão sutil primavera

Canto pra resistir
E ganhar a cidade
Conhecer pra desconhecer
Entreconhecer pra reconhecer

Contos de ir e vir
Contos de ir e vir


31 março 2019

571


                                       quadro ilustrativo: em carne viva
                                (autora: Vanessa Rodrigues - RJ)



Carne Viva
ROGERIO SANTOS

(1)
Servir a carne
Sentir a dor que me consome
Na viva carne
Ser a mesa, enfim

Alma verdadeira
Sabe o que me dói
Na solidão?

O amor
Santa ceia que há em mim
Devorar, ferir

(2)
Servir a carne
Sentir a dor que me consome
Na viva carne
Ser a mesa, enfim   

Mágoa derradeira
Sabe o que me corta
o coração?

O amor
Retalhado por aí
E eu sangrando aqui