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15 dezembro 2011

335

                                                              (para Giana Viscardi)

Templo Exato
ROGERIO SANTOS

para ser nota de sem
num instante arranha-céu
surfista na onda sonora
um borrifo um respingo no ar

é preciso respirar
alçar voo e levitar
ser o som revelando perfume

decupar de sol a sol
e jogar-se em espiral
e brecar a um milímetro do chão

intuir o templo exato
entre o belo e o esborrachar
como um sopro de paixão
no suor da canção de ninar

11 dezembro 2011

334



Cem Chorumelas
ROGERIO SANTOS

se arranque sem chorumelas


não há vaga em minha sombra
não há sogra em minha sina
não há trela pra delongas
de você entrei de férias

vou ficar, easy, na minha
só gelando a cervejinha
estou te tercerizando
e já tenho um candidato

que ficou com seu contrato
tem a voz da experiencia
e comprova a competência
o diabo tem preferência


se o gato tem sete vidas
uma rua quatro esquinas
na janela seis tramelas
se arranque cem chorumelas


18 novembro 2011

333

Flor de Açucar
ROGERIO SANTOS

como incrível  reencontro
coisa fina flor de açucar
o mundo e uma nova volta
primavera em recomeço

contemplar, destilar e sorrir
tanta generosidade da vida
é um jeito feliz de amar
é um jeito sublime de amor

13 novembro 2011

332

No Ar
ROGERIO SANTOS
(Musicado por Alexandre Lemos)

de porcelana é o amor
de por
a alma lume a vagar
de lar
um fogo forte a queimar
um mar
boca de esfinge a sorrir
porvir

um cheiro acre de sal
quintal
mistura tudo isso em mim
capim
molha de chuva também
meu bem
curvas de saborear
sonhar

carrego tudo de vez
talvez
um trovador a girar
luar
um andarilho chinfrim
por fim
que só carece chegar
no ar

08 novembro 2011

331


Fluido
ROGERIO SANTOS

a música vem em mim
como a água vai pro mar
um limite inevitável

ilusão de tanto amar
de querer também ser nau
de fazer mundo girar

04 novembro 2011

330

Insone
ROGERIO SANTOS

lua cabe me distrair
esquecer que o sono
revirará me buscar

o sol arderá dezembro
mesmo se não verão
tarde cinza a chegar

o passo em falso é manso
sonhar olhar é lento
um mar de cais cansado

de não pensar é cama
se nova idéia mora
de velha em lar errado

01 novembro 2011

329


Luz
ROGERIO SANTOS

tão menina a luz
dos teus olhos blues
que arrepio animal
corre na cervical
do poeta em mim
solo em sol em si
tão pequeno sim
um jardim nos pés
versos cravo em ti
quando teu talvez
armas que intui
pra me defender
quando te aquecer
e o amor de vez
refletir você

17 outubro 2011

328



(Foto: Rogerio Santos - Tiradentes - MG)

Ora-Pro-Nóbis
ROGERIO SANTOS

em madeira de demolição
ofereço uma janela azul
para casa que não tenha porta

onde se entra sem bater
onde um choro faz molhar
uma muda de poesia morta

como é coisa divinal
quando em tacho de poeta
cria doce de compota

ora, ora... ora-pro-nóbis
que poema saboroso
oração de dar em horta

02 outubro 2011

327


No Alvo
ROGERIO SANTOS

falhava
todas as vezes
que tentava
lhe fazer um poema

mas
quando olhei nos olhos
e entreguei um sorriso

acertei em cheio

20 setembro 2011

326


Sono
ROGERIO SANTOS

o sono desocupa o corpo
um barco bardo à deriva
cílios cerrados e silêncio
um navegante do tempo
sempre templo e passageiro
enquanto aguarda o poente
enfrenta o cais de outro dia

18 setembro 2011

325


Poema no Silêncio
ROGERIO SANTOS

é tão intenso meu silêncio
tão intenso que cabe um mundo
cabe um altar e um oratório
casa de chão de terra nas mãos
perfume vital de água de chuva
quando molha o pó - recria a argila

01 setembro 2011

324



ROGERIO SANTOS

há um conto em cada linha de varal
palavras estendidas num jardim
um velho dicionário a reclamar
por cantos de canários pelo ar

que arte é brincadeira de sonhar
com olhos de buscar nova paixão
em cada nova onda mergulhar
seja em mar, seja em som

de todas as besteiras que falei
espero e desespero vai e vem
palavras são vazias quando só
mas pira de poesia pede um nó

31 agosto 2011

Hoje é Aniversário de 6 anos do Folha de Cima !!!

Quando abri esse blog não imaginava toda a alegria que viveria a partir dos textos que produzi e publiquei.
Muita poesia, canção, muita coisa boa compartilhada em textos, vibes, parcerias, amizade, vida.

Folha de Cima faz 6 anos e é com alegria enorme que comemoro mais um ano de vida do blog.

Agradeço a poesia da vida e a vida da poesia... Sempre é possível sonhar...

Deixo para os amigos um "Papel de Parede" que o pessoal da Editora da Tribo produziu com um poema de minha autoria - Mágoa Espraiada.

Agradeço a todos que curtem e me incentivam a continuar. Muito Obrigado, mesmo !


29 agosto 2011

323


Verde maduro
ROGERIO SANTOS

um beijo não vem da boca
vem é da sola dos pés
quando planto os pés na terra
saiba que o chão é você

tenho braços tenho galhos
tenho mãos e tenho folhas
minha nuca é fruta doce
pronta pra virar comida

tão alimento e semente
teu seio desnuda diva
que orvalho de minha sombra
seiva de vida e saliva

25 agosto 2011

322

Piso Frio
ROGERIO SANTOS

Confesso que escrevi pra não chorar
Palavras de um amor que projetei
(Delicadeza que ficou no ar...)

“Amor que pede um tempo fica assim:
- só fragmentos de um jardim...”

São peças raras de demolição
Azulejando outra canção
Raio de sol no piso frio

Lá toda musa tem poeta
Faz o amor entrar na dança
Sabe inventar no coração
Um encerado e bom salão

(para o tema "samba cavaquinho" de Lúcio Gregori)

22 agosto 2011

321


Via Twitter
ROGERIO SANTOS

momento-movimento
tormento-torto

dança uma sílaba
quando exercito minha lábia
em 140 caracteres

sensivelmente
sêmen-semente

15 agosto 2011

320

Últimas Nuvens
ROGERIO SANTOS

senti um cheiro de chocolate
que me carregou para as últimas nuvens
no céu da alameda principal

para o próximo passo anterior, interior
um passo sem sair do lugar

porque nem todo passo vem do caminhar

um toque na mão, um respirar
e o perfume desse chocolate ainda tem lugar

perdido no céu da alameda principal
na nuvem de saudade que acabou de passar

09 julho 2011

319


Mar Morto
LIRIA PORTO/ROGERIO SANTOS

as lágrimas secaram
chorei sal
perder-te foi um mal irreparável
tal como se o mar se evaporasse
e eu tivesse que re_mar
tocar o barco

é quando se passa
do sólido ao líquido
o sal da saudade
consumindo a nave
a neve e o corpo

tudo fora de lugar
flutuando noutro mar
morto

07 julho 2011

318



Chaveiro
ROGERIO SANTOS


Todo mundo imagina
que só é poeta quem rima

nem todo verso vem pronto

nem redondo
e a vida ensina

nem todo caminho é uma reta

nem toda musa é menina

afirmo sem medo

que poeta é chaveiro
e usa lima

quando desvenda segredos

e abre portas
o céu é uma esquina

04 julho 2011

317


Ciclovia
ROGERIO SANTOS

travesso avesso na trave no travesseiro
até que a dor até que adorno adormeça
até que inverta e de aceite a um novo dia
a um ciclo vivído que a risca petisca
nova promessa (ah...) provando novo vértice
caco pró meça cato naco cateto
até que a noite verta tudo a revelia

26 junho 2011

316


Pô Doutor
ROGERIO SANTOS

o médico recomendou dieta
o médico recomendou caminhada
o médico recomendou repouso
e marcou o retorno na quarta às 14:30 


- logo após a feijoada ?...

16 junho 2011

315

(Foto de 1977, recolhida no "outras bossas", de Joyce)

O violão toca a mão
ROGERIO SANTOS
(para Joyce Moreno)

tem tanta luz no retrato
de quem conduz o violão
um leve tempero nos dedos
pras cordas, a inspiração

em cada nota o bom tato
forjado na solidão
redesenhando harmonia
que alimenta feito pão

agora são instrumentos
amalgamados de som
o violão e a poeta
preparando outra canção

vem pela beira da praia
das pedras do Arpoador
sopra o vento feito flauta
nos braços do Redentor

e é tanta luz que irradia
da aura e do coração
que no colo da poeta
o violão toca a mão

29 maio 2011

314






São Cristóvão
ROGERIO SANTOS

dirigir na madrugada
nas noites frias de sampa
tem um glamour europeu

mas pelo sim pelo não
vale pedir pra são cristóvão
que nunca fure um pneu

serviço vinte e quatro horas
tanto o ladrão quanto o seguro
atendem cristão e ateu

dois estilos diferentes:
um tunga em seis vezes sem juros
o outro à vista.... "cê perdeu"

16 maio 2011

313


Rotas e Istmos
ROGERIO SANTOS

minha verdadeira casa
é onde mora a poesia
na gente no mundo
nas veias abertas dos rios
nas folhas ao vento
na fruta caída do pé
nas falhas da Terra
quintal de chão batido
redemoinho de saci
trator-de-lata-de-óleo
grão de areia e matacão
elã de vulcões e geleiras
aviões e barcos de papel
ritmo de rotas e istmos
estrada de mares e céu
nas palavras salva-vidas
nos luares pára-quedas
e no brilho dos olhares
quando miram estrelas
quando o abraço é uma teia
e a boca um copo cheio
quando a sede é de saliva

05 maio 2011

312

Planos Planos
ROGERIO SANTOS

decoro as paredes do meu corpo
com a seiva sonora das palavras
soltas na correnteza da canção
em onda que molha e enxágua

teus cabelos
e a muralha que habito enquanto caminho
o caminho que habito enquanto muralha
e teus cabelos

planos planos pelos pêlos

seja verdade cravada
as marcas que ficarem
depois da alma lavada

30 abril 2011

311

Escotilha e Tabuleiro
ROGERIO SANTOS

mais que musa
te quero é blusa
por mais que suma
te quero é toda
travesso travesseiro
na forra do tempo
guerra de língua
esgríma de verbo
seja líquido e cedro
almiscarada madeira

da ponta do mastro
nó a nó estendo a linha
depois do quinto sentido
escala do início ao set
e viro sombra e bandeira
quando o sol queima teu corpo
de menina parafina

se o destino é passageiro
porque fugir do barco
de escotilha e tabuleiro?

25 março 2011

310


Caminhos de Água
ROGERIO SANTOS
as escolhas que faço não pesam
se bobear, estão mais para flutuar

enluam, chovem, molham, escorrem
...
as minhas simples escolhas
seguem caminhos de água

lavam e levam coisas e pessoas
são de matar e matar a sede

não conheço aridez
que não seja pisar os pés
em beira de rio e de praia

22 março 2011

309


Quintal da Solidão
 ROGERIO SANTOS
(para o tema Searching for the Words)

Ouvindo o Tom, fui cair de vez no samba
Não tem perdão, as palavras sempre dançam

No molho da panela sincopada tem que caber
Pitada de saudade e água de beber
Um samba se faz assim - receita na intuição
- Quintal da solidão

Se vou dizer o que me seduz no samba
Não sei porque, as palavras sempre dançam

Vinícius recomenda uma tristeza de enlouquecer
Aldir molha a palavra pra depois dizer
E o Chico, por sua vez, recolhe a poesia do chão
- Quintal da solidão

Prato para o poeta, em cada nota da minha tradução
Samba, de gente bamba, se diz no pé também vai dizer na mão

10 março 2011

308



Não há 
ROGERIO SANTOS

não há verdade sem ver
não há tesão sem tez
não há saudade sem sal
não há coração sem cor

não há cenário sem rio
não há ilusão sem luz
não há paixão sem ai
não há adorno sem dor

não há inventor sem vento
não há conversor sem verso
não há amarra sem amar
não há sentido sem ti

17 fevereiro 2011

306

Trilha
ROGERIO SANTOS

há de se pisar um caminho por muitas vezes
até que finalmente se transforme numa clara e certeira trilha

12 fevereiro 2011

305


Preciosa
ROGERIO SANTOS

paira no ar uma necessidade veloz, fremente, de ser, de estar, de se jogar na rede.
eu aqui, nesse instante, só penso nisso; em ser, em estar e em me jogar na rede.
mas deixo claro que meu dicionário é de 1974, do MEC, ganhei de minha avó Maria Preciosa quando tinha 7 anos de idade.

tive sorte, minha avó carregava poesia no nome.

06 fevereiro 2011

304


O Vaso
ROGERIO SANTOS

sou um vaso iluminado
trago flores
mesmo que meio quebrado
trago flores

pela fenda de mim mesmo
sempre escorre alguma água
seja chuva de alegria
ou mar de calma

sempre há pássaro por perto
do assovio
sempre um cisco de alegria
e rodopio

o meu corpo vem do barro
de açude
o esqueleto de madeira
de alaúde

pela fenda de mim mesmo
passa um rio
passa fina corredeira
em raro trino

da semente faz um galho e faz o ninho
meu vizinho João-de-barro
em seu destino pequenino

sou um vaso que navega pergaminho
guardo toda uma cisterna
pingo a pingo

que de tanta primavera
enfeito um livro
faço flor e traço viço na janela

31 janeiro 2011

303


Tarifa Zero

(Rogerio Santos)
(letra para o tema "Tarifa Zero", de Lúcio Gregory)

vou andar com fé
da Lapa a Penha do Ó a Sé

eu já pedi pra São Gregório pra me ajudar
a sola do meu sapato vai acabar
o coletivo tá muito caro
tarifa zero vai salvar o meu salário

como andar com fé
da Lapa à Penha do Ó à Sé?

o meu pedido já bateu: engavetado !
picareta se elegeu no nosso bairro
vereador anda de carro
enquanto o pobre, só se for presidiário

sei que até Jesus
se quiser deixar Belém
vai ver a cruz que aqui tem

vou andar com fé
da Lapa à Penha do Ó à Sé

o meu pedido já bateu engavetado
por um cara de madeira envernizado
vou seguir minha batida de dromedário
colocar a meia-sola no meu sapato

20 janeiro 2011

302

(Foto: Paloma Lopes - Chapada Diamantina)

Calanguim
ROGERIO SANTOS

...cala calango, cala...

já que leu meu pensamento
não entregue minha fala
que eu não te levo na mala
nem a troco de oferenda
seja flor de qualquer senda
e assim firmamos um trato

as paredes tem ouvidos
toda alma tem sua fenda
por onde a lágrima brota
grita, cisca, vaza, molha
seja em véu de cachoeira
seja em lento conta gotas


13 janeiro 2011

301



Por um fio
ROGERIO SANTOS

e lá estavamos nós e o mar
na cabeça aquela canção do Chico
"não se afobe não, que nada é pra já"

(pensei) a vida é sempre curta
não importa o quanto vai durar
por mais que o amor não tenha pressa
tudo sempre estará por um fio

então que seja forte
e aguente firme os trancos
enquanto for possível costurar
- a vida e o amor -
ignorando o ponto cruz

10 janeiro 2011

300


Halo
ROGERIO SANTOS

vento de janeiro
tem cheiro de mar
tem cheiro de chuva
quando molha o chão

halo de sol e lua
na raiz da poesia