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24 outubro 2010

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Sete vidas
ROGERIO SANTOS

um gato tem sete vidas
eu tenho uma vida só
sete amores sei que é bom
um bem grande é bem melhor (refrão)

mulher boa é minha mãe
boa mesmo é minha avó
disse ontem meu avô:
- depois que ela virou pó

a mulher que tu me destes
era osso, esfarelou
Jesus Cristo veio a Terra
nem a dele ele levou

essa velha minha sogra
no meu sogro deu um nó
trocou sua dentadura
por um quilo de jiló

na hora do rango pronto
veio a fome de leão
o jiló virou chichete
sem ter a mastigação

minha sogra deu risada
meu sogro não teve dó
encheu ela de pancada
foi parar no xilindró

Jesus Cristo veio a Terra
pra deixar uma lição
mulher boa só a mãe
as demais só confusão

21 outubro 2010

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A poeta Lilia Maria Faccio é uma grande amiga e escreveu o poema destacado em vermelho inspirada no meu poema GPS, que classificou como geográfico (não posso negar que isso acontece com frequência...rs). Produziu uma resposta matemática para o meu poema. Lilia foi minha professora de matemática no ginásio. Uma excelente professora, uma excelente poeta e uma excelente pessoa. Confesso que essa construção a quatro mãos ou a dois cérebros, trouxe uma alegria diferente:
A alegria de sentir quando um pequeno tesouro vem nos garimpar.

In-disciplinas
ROGERIO SANTOS
LILIA MARIA FACCIO

o amor é altiplano
quando a vida é cordilheira
quando a paixão serpenteia
desejo e desfiladeiro

a atração é um desafio
primeira ponta de fio
da novela e do novelo
fecunda lição de alpinista

não há carta ou cartilha
que oriente um caminho
vai nos olhos de quem ama
GPS e fagulha de chama

o amor é um axioma
quando a vida é um teorema,
quando a paixão se demonstra
por indução quase infinita

a atração é o desafio
de preencher o conjunto vazio
de muitas respostas e facetas
de quem contém ou é contido

não há processo ou algoritmo
que mostre o melhor caminho
pra se chegar ao coração
de quem escreve o problema 


17 outubro 2010

291

(foto: aliança, de Rose Tóffoli)

GPS
ROGERIO SANTOS

o amor é altiplano
quando a vida é cordilheira
quando a paixão serpenteia
desejo e desfiladeiro

o tesão é um desafio
primeira ponta de fio
da novela e do novelo
fecunda lição de alpinista

e não há trilha ou cartilha
que oriente um caminho
vai nos olhos de quem ama
GPS e fagulha de chama

15 outubro 2010

290

(Foto: Rose Tóffoli)

Canto Cantareira
ROGERIO SANTOS

um canto um tum tum
um rito baticum
um bico um cisco um risco
pelo céu levanto avoo

também sou de urucum
menino ribeirim
a clave tem a chave
por calor que o asfalto apague

carrego nesse tanto
o acalanto de mi'a mãe

que é dessa freguesia
com oh de ladainha
estrada da boiada
e rua dos sitiantes

que dentro do meu peito
corre um rio como antes

por mais que tudo pare
nada ande tudo estanque
altar bem paulistano
interiorano retirante

também sou de urucum
retinto feito assum
um bico um cisco um risco
pelo céu levanto avoo

num canto cantareira
sou mais zum delineante

13 outubro 2010

289

(Foto: Estação, de Rose Tóffoli)

Escotilha
ROGERIO SANTOS

a singeleza que me habita
pinta e borda em linhas tortas
não diz solitária palavra

não compra carro de marca
não veste roupa da moda
também não sai em revista

é no silêncio que dá as caras
é no olhar que pega a pista
é no sorriso que viaja

é na leveza que se espraia
é no poema que levita
é no carinho que é turista