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24 dezembro 2007

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Lima-da-Pérsia
ROGERIO SANTOS

não te aflijas
pelo que não falo
que te entrego
tudo aquilo que calo
uma fonte
vertendo teu nome
uma lua
no teu horizonte
essa pele
em busca do afago
no desejo
bem dissimulado
flutuar pelos meridianos
no sorriso
que tenho guardado
nos teus acres
tão bem demarcados
território traído no mapa
no teu viço
por cada centímetro
seja eterno
esse som do teu trino
e o aroma
de lima-da-pérsia
no perfume
na tez do tecido
na visão
paraíso do olfato
paladar
dirigível no tato
ouça moça
no veio do laço
não te aflijas
pelo que não falo

10 dezembro 2007

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Poema Calado
ROGERIO SANTOS

dá dó de poema
com pouca trama e muita trema
dá nó no poema
o muito drama, a pouca cena
adoro poema geográfico, pornográfico
adoro poema espiral, espacial
dá dó de poema esquelético, arquétipo
dá nó no poema, o lânguido, o pândego
adoro poema de rio, de mar
adoro poema calado; calar
parte, profundidade da fruta
da sanha, da carne, da gruta
nem tudo é pavão, misterioso leito
são rios e rio, e rio calado
embarcado na mesma viagem
em busca do equilibrio absoluto
margem direita palavra
margem esquerda intuição
acionados sonares dilemas
sigo calado e flutuo poemas

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Arrependimento
ROGERIO SANTOS

Chorei uma Guarapiranga por você
Já fui até Marsilac prá te ver
Pensei em fazer rapel na Sumaré
Quem sabe me vias no SPTV

Eu sei que tem muita gente por aí
São quase uns vinte milhões (ou por aí)
Mas eu sou sentimental, fazer o quê ?
Não fecho meu quebra-cabeças sem você

Não sei bem ao certo porque me abandonou
Meu peito tem hoje mais túneis que o metrô
São Paulo é uma esquina e a gente vai se ver
Não fecho meu quebra-cabeças sem você

Bixiga foi onde tudo começou
Você garçonete lá no bar do PT
Eu ia tomar saideira na calçada
Até te cantar prum café no meu chatô

Do beijo pro amor foi uma questão de tempo
Do amor pro ciúme não sei porque razão
Eu nunca fui homem de bater em mulher
Só nuns militantes do PSDB

Cheguei até Pedra Branca e fui a pé
Olhar lá do alto se via algum porque
Lembrei da minha Cantareira de paixão
Na boca de urna do FHC

O ciclo fechou como uma obturação
Até os "companheiro" são tudo "pelegão"
Eu vou te encontrar numa dessas batucadas
Contar que hoje em dia até eu tô no "centrão"

Comprei um par de sapatos, e dos bons
Comprei duas taças e um moet chandon
É tudo prá ti, meu amor, meu coração
Saudade em doze parcelas no cartão
Dou casa, comida, calor e um mensalão...

02 dezembro 2007

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Réquiem
ROGERIO SANTOS

um lápis e um segredo
represam um poema
evocam adagas
de géiser-panema

catarro na boca
estrofe latente
um lapso e um desejo
omitem um poema

efunde pelo corpo
febril alarido
ciclone de foice
faz grito no poente

na sombra se cala
o pássaro fonema
a lápide serena
remonta um poema