28 dezembro 2008
204
Pingente
ROGERIO SANTOS
enquanto uma palavra puxa a outra
enquanto rolam umas frases soltas
sigo trepado no pára-choque da poesia
nem sempre quer dizer muita coisa
além da inércia até o próximo parágrafo
no trânsito caótico de absurdos diários
os apressados que verbalizem pra todo lado
eu prefiro ficar calado valorizando meu tempo
e economizando a borracha para a sola do sapato
26 dezembro 2008
203
Em tempo
ROGERIO SANTOS
ainda menino aprendi
com o tempo e à tempo:
........fique parado
........e a vida passa
por conta disso
dei de ombros
aos acomodados:
........peguei carona
........e segui em frente
não sou de dar mole
para arrependimento:
........sorrir é urgente
........e agora é o momento
(a vida não passa duas vezes
e correr atrás deve dar uma canseira...)
23 dezembro 2008
202
Transitivo
ROGERIO SANTOS
não penso em nada
quando saio às ruas
só de olhar pelo verso
e transgredir leitura
não há trânsito
que me segure
não há faixa
de rolagem
que me enrole
não há rodas
não há moldas
nem há mulas
não me invente
quebra-molas
não me impeça
que acelere
é café pequeno
e vá tomar no
drive-thru
coma seu medo
e que a poesia
te atropele
17 dezembro 2008
201
(foto: Luciana Whitaker)
Alma Lavada
ROGERIO SANTOS
as pedras que rolam no rio
com o sorriso que trouxemos
não são simples fragmentos
quando chove, e chove forte
no vento incomum que bateu
pássaros voaram nossos planos
na água que escorre em meu rosto
não cabe a lágrima de ontem
e bem por isso, é moça no trapézio
porque se sabe arrebatando encostas
e todo o olhar que aflora triste
na alma não faz sedimentos
aquela lágrima de ontem
filha de forte frente fria
foi gelo num copo de uísque
e também teve o seu dia
a água que escorre em meu rosto
eleva uma nuvem menina
e chove erosão de alegria
em persistente garoa fina
08 dezembro 2008
200
Nebulosa
ROGERIO SANTOS
cala a fala teu poema
há anos-luz de luneta
são mil estrelas meninas
gametas na gravidade
mail passeio girândola
bissexto com mais de mil dias
e nessa viagem não me há Fobos
amar-te e a galáxia é pequena
constelado céu-da-boca
vela na sopa de letras
vento lunar teu poema
reverso de viagem plena
nave nos confins da língua
satélite feito fonema
02 dezembro 2008
29 novembro 2008
198
Vai e faz
ROGERIO SANTOS
flor de vento
verdes são os tempos
desbravadas vias
sintonias finas
sons de efe eme
voz aguda
toda chave
na fogueira da palavra
não é cedo
não é tarde
não há saia justa
acontece que divisa
faz a linha imaginária
horizonte monte ponte
rompe um som pelo ar
vai sonhar
vai soar
vai sonar
vai e vai e vai e vai e vai
faz voar
faz ficar
faz brilhar
faz e faz e faz e faz e faz
flor de vento
ventania no loquete
quebra e parte
abre a grota
erosão se fez
23 novembro 2008
128 - Re-postagem
Repostagem do meu poema 128 - Beijo Torpedo
que foi musicado pelo Tony Pituco Freitas
e acaba de ter uma versão da canção inserida no youtube.
Beijo-Torpedo
Poema: ROGERIO SANTOS
Música: TONY PITUCO FREITAS
num dia nublado desses
te mando um beijo-torpedo
e explodo tua boca carmim
o susto será tão grande
que ficarás assim...assim...
enquanto pensas no fato
no zapt da situação
me cravo no teu coração
tatuo minha boca em tua nuca
e será tarde pro fim...pro fim
Trecho do show no Tocador de Bolacha em 19/11/2008
Beijo Torpedo
Rogerio Santos: voz e triângulo
Luiza Albuquerques: voz
Floriano Villaça: violão e arranjo
Caio Góes: baixo
André Kurchal: percussão
(Vídeo Produzido e Editado por Rose Poulain)
16 novembro 2008
197
Pelos Pólos
ROGERIO SANTOS
(para melodia de Renato Candro)
cheguei tão perto de você
que não consigo mais viver
meu corpo todo pede
decididamente
que o mundo se acabe num beijo
pele
.......pelos
................pólos
.........................teus
turbilhão de prazer
primavera do ser
plenitude talvez ?
assim tão perto de você
e traduzido vou viver
por esse amor
que toda a luz
de um novo dia
faz a vida florescer
12 novembro 2008
196
Atrevido
Letra:ROGERIO SANTOS
Musica:SOLANGE SÁ
a tre vido no trevo de quatro folhas
a tre vido nos dados em seis virados
a tre vido no bate em sete de ouros
no terço talhado em prata
degelo de glaciares
a tre vido no roubo da rosa rara
a tre vido no verso jorrado em lava
a tre vido na luz da lua de nata
no olho do olho alheio
no gume da fina faca
a tre vido no tombo da corda bamba
a tre vido no gomo de uma laranja
a tre vido no gole de uma cachaça
no corte de uma palavra
no amor que incendeia a sala
a tre vido no peito cravado à bala
a tre vido na fala que engole a fala
a tre vido na trilha da tua palma
na porta da tua casa
na língua travada à travo
a tre vido retalho das tuas coxas
a tre vido por dentro das tuas bolhas
a tre vido na flor da tua cascata
na carne da tua nuca
no trevo de quatro folhas
a tre vido
07 novembro 2008
195
Pontevedra
ROGERIO SANTOS
(para a música "Pontevedra" de Chico Pinheiro)
"feixes, fontes, rías, montes,
vinhas, flores, conchas, cores,
sopram notas improváveis..."
herança sempre carreguei
despir os pés
para tocar com meu olhar
meus dedos quanto calejei
viaja o violão
e numa escala faz o canto derramar
um brinde, uma queimada
e vou ouvir gaita ao luar
tantos passos que já caminhei
o sangue converteu
por entre artérias temporais
em marcas, e me tatuei
a ponte - Pontevedra - atravessei
com meus acordes ancestrais
no filho que partiu
habita o som desse lugar
nos pincéis tons de contemplação
tintas de amor e adoração
pintam na canção
um brinde, uma queimada
e vou ouvir gaita ao luar
tantos passos que já caminhei
o sangue converteu
por entre artérias temporais
em marcas, e me tatuei
a ponte - Pontevedra - atravessei
com meus acordes ancestrais
no filho que partiu
habita o som desse lugar
no encanto desse encontro
me perder
e me perder
pra te encontrar
05 novembro 2008
194
Espraiar
ROGERIO SANTOS
cabe um beijo na madrugada
quando a insônia não mora longe
mas quando é praia de ilha bela
quem faz o cais em belo horizonte?
cabe um beijo na madrugada
que o vento risca a ilha comprida
que a areia clara de porto alegre
afasta as ondas da guanabara
cabe um beijo na madrugada
nas cruzes densas e solitárias
do mar de ruas dessa cidade
que em cada barco uma jóia cara
cabe um beijo na madrugada
esteio esteira tampão mordaça
enquanto o povo não praia a praça
hei de nadar sem perder a graça
cabe um beijo na madrugada
que seja um beijo descortinado
desses que faz sol raiar o dia
sem meia pressa da mocidade
30 outubro 2008
Extra !!!
22 outubro 2008
18 outubro 2008
16 outubro 2008
191
Poente
ROGERIO SANTOS
(para Willian das Neves)
partiu
como quem disse adeus
com aceno no olhar
e foi
como peixe de prata
lastro de iemanjá
deixou
claro rastro de luz
e um copo no bar
poente
como lua de prata
em poema de mar
quem faz
navegar a saudade
que aportou nesse cais?
quem vai
marejar amiúde
quando for caminhar?
um samba
no silêncio da tarde
veio me recordar
um nó
guarda o barco amarrado
nesse braço de mar
01 outubro 2008
190
Pontual
ROGERIO SANTOS
quase todo tempo quando me evaporo
ardo pelos poros que transpiram parte
parte pelo tempo traço do que adoro
corte em linha reta métrica metade
e quem fez do tempo frágil fragmento
numa linha reta já virou saudade
marcas diminutas anos ou segundos
tudo vira ponto quando cedo ou tarde
quando o mundo gira traz a noite e o dia
traz a alegria, a fome, o sentimento
deixa a linha reta escanchada no vento
a soma de sonhos que chamamos tempo
17 setembro 2008
189
Circular Avenidas
ROGERIO SANTOS
a patroa
chamou minha sogra
pro jantar
(de novo?)
a inxirida da véia
tratou de pentelhar
(telefone à cobrar)
- imprestável !...
...qual ônibus
tenho que tomar?
(eu mudei de barraco)
naquele instante
foi quando a idéia me ocorreu:
(hoje eu vou me livrar)
- pega o Avenidas
e vai até o ponto final
(acho que vai demorar)
já vão três dias
e ninguém mais ousa perguntar
(acertei no milhar!)
a jararaca,
virou balaústre do busão
(ligação à cobrar...)
no banco dos bôbos
que nem um boneco "michelin"
(ligação à cobrar!)
- caiu meus dentes
mas não há um meio
de chegar...
(quáquáráquáquáquá)
toma uma sopa
e espera chegar
o ponto final
(ou desce no Araça!)
eu agradeço
em preces a CMTC
(Deus há de abençoar)
pelo Avenidas
que fez minha sogra
circular
13 setembro 2008
188
(Flores de Maria Helena: Aquarela de Sonia Madruga)
ROGERIO SANTOS
por dentro alameda
por fora sou crua
sou tensa procura
por fora sou fina
senhora, sou fúria
por dentro sou nua
que atento verias
por dentro sou densa
sou faca, serpente
por fora tormenta
fulgura aparente
por dia sou muitas
por conta sou ninfa
sou Vênus ardente
decerto sou santa
picante, inocente
ditado dileto:
- "por hora sou tua"
com carta na manga
pitomba, pitanga
aguardente, elegia
por certo lerias
tivesses a lente
meu fundo de olho
meu fundo de alma
por certo lerias
na linha aparente
da mão espalmada
do braço de mar
porquanto, portanto
porvir evidente
saber do que prende
o lume e a vela
o sismo e a sina
por dentro verias
as veias abertas
palavras colhidas
em tom de aquarela
187
(Jericoacoara, a praia que inspirou a letra)
Rogerio Santos - Beira Mar
Beira Mar
Letra: ROGERIO SANTOS
Música: ROGERIO SANTOS E FLORIANO VILLAÇA
o calor na areia
chinelo de correia
a duna que dá canseira
no dia da beira mar
o cheiro da caldeirada
uma cerveja gelada
o paladar da namorada
na noite da beira mar
o sonho de mil viagens
vislumbre de mil miragens
preguiça de toda tarde
no dia da beira mar
a lua entre o coqueiro
a brisa lambe o cabelo
a prosa pelo passeio
na noite da beira mar
o artesão na feira
tem renda, rede, peneira
o peixe na frigideira
no dia da beira mar
o jogo da capoeira
cantoria na fogueira
o rasta-pé na ribeira
na noite da beira mar
o silêncio, o encanto
o sossego, o descanso
da vida na beira mar
31 agosto 2008
186 (3° Aniversàrio do blog)
(foto: Rogerio Santos)
(3° aniversário do folha de cima)
In Cité
ROGERIO SANTOS
há poesia
em cada quadro
em cada esquina
em cada estação
a cidade não traduz
minhas palavras
mas reflete suas luzes
no meu olhar desconstruido
em cada estação
em cada esquina
em cada quadro
a poesia
e a cidade enamora
o olhar de quem passeia
os pés de quem caminha
e permeia as horas do dia
e quando aflora a noite
nossos passos tatuados
na porta de setembro
espreita primavera
em doze meridianos
do meu globo ocular
19 agosto 2008
185
Dorival (Estrela do Mar)
ROGERIO SANTOS
segue teu destino
cantador do mar
segue teu destino
capitão de areia
peço tua benção
vento e céu azul
deixa em nossos olhos
mares de sonhar
ponho os pés no sal
para me abençoar
cheiro litoral
que é de marejar
o que é da terra é térreo
e a terra tornará
o que é dos deuses conta
enfeita Iemanjá
e segue procissão
mil ondas do mar
mil ondas de som
de pérola lilás
notas de oração
vela mil sóis em si
atraca embarcação
que faz canção no cais
e quando chega e sai
inventa um novo mar
toda constelação
evoca esse fanal
além rebentação
vai som de Dorival
que agora eflui em luz
nação pedra do sal
em noite de luar
rebrilha em todo mar
08 agosto 2008
184
Cardume
ROGERIO SANTOS
cato cacos de poesia
como quem garimpa
palavras perdidas
num dicionário da vida
acaso forro aflore
na Ilha das Flores
um eu expectador
personagem ou diretor
invoco terços vocábulos
verso tríade incesto
os Zés e meus eus
entre pilhas de dejeto
masco nós e cós e cuspo
como pet e pão e domo
minha terra prometida
meu maná estilhaçado
devoro por essa vida
tanto tudo todo todo
remo e rede e barco
e esse peixe multiplicado
que todo peixe é palavra
um feixe no xis da questão
aquele que nada e se cala
é peixe de um novo Sião
06 agosto 2008
183
Bolinho de Chuva
ROGERIO SANTOS
(para Douglas Doug)
hoje vou por pra correr
pensamento
costuro as colchas
da velha casa
no cheiro da terra molhada
a mesa farta
de riso solto
de bolinho de chuva
e papo bom
de ser
de ter
hoje não quero nem ver
espelho
...espelho
......retalho
.........espelho
espelho meu
de que lado estou ?
seguir viagem
se é noite no oriente
abertos sonhos
a vida é um prazer latente
abertos sonhos
quero ser café-com-leite
no paladar
um sabor de creme
invade a tarde
e o dia chega
tão docemente
naquele meu lugar
é sonho, é sonho
é sonho bom....
é sonho, é sonho, é sonho
é sonho, é sonho
é sonho bom....
é sonho, é sonho, é sonho
é sonho, é sonho
é sonho bom....
30 julho 2008
182
26 julho 2008
181
LÍRIA PORTO/ROGERIO SANTOS
as manhãs são loiras
as tardes são ruivas
as noites morenas
o sol
fica doido
a lua
rói as unhas
e o vento atrevido
que lambe de leve
a perna
das moças
aquece a libido
provoca umidade
hálito de chuva
& arco-íris
com essa atmosfera
todo cuidado
...todo cuidado
......todo cuidado
.................é pouco
num piscar de olhos
vamos nós
nus & naus
rodopiando
em zona
de alta pressão
12 julho 2008
180
(foto: Janaína Menegaz)
Folha de Cima
ROGERIO SANTOS
olho uma folha que vai
no rio corrente
uma só folha que vai
buscando o mar
porque é preciso sonhar
e navegar
porque é preciso sonhar
banho de mar
em toda folha há de ter
a vida urgente
uma só folha é de ler
e tracejar
porque é preciso sonhar
e navegar
porque é preciso sonhar
beira de mar
quero uma folha também
vou embarcar
uma só folha me dêem
e rumo ao mar
porque é preciso sonhar
e navegar
porque é preciso somar
contas de mar
e não importa chegar
não é urgente
o que importa é o ato
de embarcar
nada é urgente demais
para adiar
em cada folha pintar
cores de mar
01 julho 2008
179
(foto: Cátia Rocha)
Balada das Ondas do Mar
ROGERIO SANTOS
o amor contém o mar
como a flor namora o mel
e a abelha o girassol
passeia no som paladar
um banquete de fonemas
quitutes de doce ilusão
molhar os lábios de sal
champagne sabor borboleta
mal-me-quer meu querubim
bem-me-quer te quero bem
onde há amor há o mar
pleno de luz no habitat
onde a rima faz morada
abelha poeta ferrão
se quer amor quer o mar
se quer a flor quer o pão
mal-me-quer te gira sol
bem-me-quer meu coração
28 junho 2008
alçando novo vôo em 16 de Julho...
- vou botar o meu bloco na rua -
(a canção foi feita para ser cantada)
várias canções autorais no repertório
parcerias com Tony Pituco Freitas
Floriano Villaça e Andréa dos Guimarães
todas com letras postadas e espalhadas
nesses quase 3 anos de "folhadecima"...
quem for de Sampa ou estiver por aqui....
o convite está feito...
apareçam no Café Piu Piu dia 16/07 - 21:30
25 junho 2008
21 junho 2008
177
Azuis
ROGERIO SANTOS
carrega o sorriso no som do badalo do sino
que azul é esse de tantra perverso
um lago perfeito onde não farta peixe
de tantos amares em abalos sísmicos
na falha da alma azul de metileno
azul que não se treva pintando sets
erosões verticalmente implacáveis
criados-mudos estrelas-do-mar em novos recifes
sem eira nem beira quem betoneira
escultura em doze graus na escala richter
reparte hemisférios como uma faca à laranja
por toda a exuberância de um leve momento
o azul do mar do céu no espelho dos olhos da cidade
é simples desmantelo e deleite nos olhos mareados de saudade
15 junho 2008
176
Santo Antônio
ROGERIO SANTOS
são mais lindas
as tardes de junho
dançam cores
nas tardes de junho
brilho fresco
como a brisa
que balança
bandeirinhas
são tão doces
as noites de junho
que saudade
nas noites de junho
todo o charme
das quadrilhas
com sabor
de paçoquinhas
vamos gritar
com a voz da alma
que nossa alegria
é sem ressalva
olha a chuva...
....é mentira
chama o padre
que o noivo quer fugir
e pula a fogueira
e apaga a mágoa
no sexto quentão
a moça casa
em louvor à Santo Antônio
vai deixar promessa paga
para o ano a mesma festa
pra aquecer a mulherada
05 junho 2008
175
Lance Livre
ROGERIO SANTOS
a boca está pela tabela
parto para dentro
tento uma bandeja
e novamente tomo um toco
tento um arremesso longo
não consigo acertar
e são menos três pontos
e eu que não capito inglês
tento arquitetar
um único lance perfeito
tempo esgotado
final de jogo
tiro meu time de campo
minha cara, essa tabela
não é qualquer artefato
door de madeira nobre
01 junho 2008
174
(foto by Flávia Melissa )
Multicolorido
ROGERIO SANTOS
a rosa é mistura
de branco e vermelho
no jardim
o verde é mistura
de azul e amarelo
no jardim
teus olhos misturam
as cores do fogo
e o branco do céu
teus lábios carregam
as cores da terra
na porta do céu
o azul rei mistura
a rosa e o turquesa
do jasmim
o bronze mistura
o verde e o vermelho
do jasmim
no céu da tua boca
viaja um vermelho
poente de mar
no céu dos meus olhos
a tela de nuvens
faz chuva cair
a chuva na tela
desejo aquarela
de rodopiar
mistura de cores
de pólen de flores
sutil paladar
28 maio 2008
13 maio 2008
12 maio 2008
171
09 maio 2008
170
Presente
ROGERIO SANTOS
(para a Rita Ritinha Cantora)
(para a melodia de Fernando Baeta)
o mar que herdei
guarda o destino que tracei
denso de erosão no olhar
navegar pelo rei
romper o ponto de partida
ventre-porto
sempre-vivas
olhos de velar
chover não sei
um vento leve me bateu
fez o amor em mim brotar
há sete léguas de matizes
tintas tontas
pintam e bordam
linda embarcação
(azul)
08 maio 2008
169
O Juiz e a Sogra
ROGERIO SANTOS
eu tava tão bem na padoca em Santo Amaro
mas tinha que ver o meu time no estádio
roubado por um argentino salafrário
a minha bandeira virou escapulário
quem torce pra Portuguesa de Desportos
coração tudo pode aguentar
depois do apito ficou sapo entalado
além do nervoso inda me pisaram o calo
um dia vou ver esses caras rebaixados
e minha mulher fica me tirando o sarro
quem torce pra Portuguesa de Desportos
coração tudo pode aguentar
eu chuto o cachorro ela já descola um gato
pra ver o escroto mijando o meu sapato
ou faço vender para o cara do churrasco
ou fico com ele e ela sobe no telhado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
coração tudo pode aguentar
a sua mãe liga o ar condicionado
só para dizer que precisa de um casaco
proponho mandar pro deserto do Saara
acabo perdendo metade do ordenado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
coração tudo pode aguentar
ainda ventilam que sou muito encanado
que vivo apegado nas coisas do passado
eu como calado mas deixo meu recado
quem faz nessa vida aqui vai pagar dobrado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
coração tudo pode aguentar
05 maio 2008
168
Pescador
ROGERIO SANTOS
como iscas
quando pesco
no intenso mar
o fitoplâncton
e tudo é questão
as vezes
e em dias banais, banais vocábulos
encho meu puçá
com belos
que minha aldeia banqueteia
23 abril 2008
167
(foto: Ricardo Zerrenner - www.zerrenner.fot.br)
Tons
ROGERIO SANTOS
(para a música "Laranjeiras" de Anthony Wilson)
com vento a beira mar
bem sabe as imagens que guardei
tantos sons
fusão
desvendar as notas da canção pela tez
foi avistar o Galeão
pra pintar essa sensação
pincel de céu
de sal
de dor
amor assim no tom
Morro da Urca
até subir o Redentor
resplendor
tanta cor
tanta cor
entre tons tão jobins
notas de tons tão jobins
21 abril 2008
166
Cores
ROGERIO SANTOS
nas minhas paredes
as cores são tortas
sutis primaveras
do lado de dentro
um misto de cinzas
do lado de fora
e não vai tão longe
que ainda era dia
com vales e mares
por todos os cantos
janelas de ripa
de costela nobre
na dança poente
latente relógio
e o sol rabiscando
na veneziana
nas minhas paredes
as cores são mortas
com sete carrancas
postadas na porta
do lado de dentro
incenso de almíscar
que hoje era dia
de doce senhora
e flores do campo
de todas as bodas
janelas ao vento
cortinas de chita
no vaso de ervas
pimenta de cheiro
a dança latente
do sol quando aflora
nas minhas paredes
de cores tão tantra
as cores são tantas
que as cores tão francas
amores devoram
14 abril 2008
165
03 abril 2008
164
Bailarina
Música: FLORIANO VILLAÇA
Letra: ROGERIO SANTOS
moça linda
baila nas retinas
rodopia no brinquedo
e desperta meus instintos
de parir poesia
salta para fora dessa caixa
dou-te corda e duas asas
vais voar num raro encanto
céu de bailarina
um vento nuvem sapatilha
deixa um verso pelo ar
chuva nos quintais
foz no paladar
que me embala
vou jogar as minhas asas
e voar
também sei bailar
se complicam
pedem vento nos cabelos
e momentos de silêncio
caminhar pelo sereno
faz mais leve a madrugada
no compasso dos ponteiros
acordar a passarada
- bailarina -
vou morar na tua caixa
abraçar a minha sina
sem dizer palavra
nosso amor é bem mais simples
do que o despertar do sol
02 abril 2008
163
Ecos de Minas
ROGERIO SANTOS
a cadência dos santos
exalta Minas Gerais
com leveza de gongá
feito em notas musicais
e alcança toda graça
pela Missa dos Quilombos
que ainda hoje ecoa
na Igreja do Caraça
e faz som de cachoeira
e tem sabor de cachaça
e faz no sotaque mineiro
um Deus da mistura da raça
protetor de notas e acordes
embala no som dos tambores
o toque de todos os povos
e a paixão de mil amores
28 março 2008
162
Pequeno Conto
Música: FLORIANO VILLAÇA
Letra: ROGERIO SANTOS
num vôo insano
limite plano
velas abertas pelo ar
um súbito mergulho
quem pode flutuar ?
e vão-se os anos
encantos tantos
e ainda há tempo para amar
num último suspiro
a dança que redime a primavera
há luz no fundo de todo túnel
e tem seu tempo de queimar
saudade labareda
quem pode suportar?
um novo surto
um ciclo ufano
um templo ileso no olhar
agora sem saída
o chão que se aproxima
é só miragem mar
14 março 2008
161
13 março 2008
160
(foto: Rogerio Santos)
Acalanto para uma tarde chuvosa
ROGERIO SANTOS
talvez
não seja fácil
o viver feliz
talvez
não seja lindo
esse meu nariz
só sei que quero bem
a flor do meu jardim
só sei que vou além
e quero ver sorrir
talvez
não haja graça
no meu caminhar
talvez
te de na lata
de me reprovar
mas danço mesmo assim
não quero nem saber
o que tu tens em mim
ninguém pode conter
talvez
meu argumento
não te faça rir
talvez
tu queiras algo
que não pode ter
mas tenhas gratidão
com tudo que provém
e tenhas compaixão
por menos que te dêem
talvez
não haja jeito
para compreender
talvez
não haja brilho
nesse entardecer
com isso a noite vem
e abarca a solidão
aperta uma tristeza
dentro do coração
mas vais viver feliz
se meu olhar traduz
espelha tua alma
espirito de luz