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23 dezembro 2012

396



Dumdum
ROGERIO SANTOS

quando disparo a poesia
ela vai firme na rota
a precisão é terrível
procuro o meio peito

se você corre ela pega
se você pára tá morta
é como a fome e a sede
é como um tiro infalível

se ajoelhar não escapa
se abaixar ela passa
se espatifa na parede
mas te acerta pelas costas

20 dezembro 2012

395



Canção
ROGERIO SANTOS

escrevo um poema, ponto.
mas encontrei um poema pronto
e só restou uma alternativa:
buscar na urgência da carne
a inspiração para a melodia

19 dezembro 2012

394



Oito de Copas
ROGERIO SANTOS

passo para olhar o que não vejo
para sentir o que não sinto
para ultrapassar velozmente
a imensidão da mesmice

passo para filmar o limite
na porta do precipício
 

onde se queda a sandice
onde o barato é o hospício

passo para a próxima palavra
petardo ou paralelepípedo
por fim, deixo o "deixa disso"
no desregulado densímetro

a temperança dá o viço
do oito de copas no encalço
peito encharcado e semente
vertigem do próximo passo

18 dezembro 2012

393



Orvalho
ROGERIO SANTOS

ouço muitos comentários
sobre as folhas que invento
sobre as flores que apresento
sobre os frutos que espalho

o verão inventa cores
o outono as acinzenta
o inverno engana o tempo
a primavera enfeita os olhos

e o ciclo se completa
antes que tudo se perceba
para viver numa vereda
é preciso ter orvalho


17 dezembro 2012

392



Por Breve que Seja
ROGERIO SANTOS

tenho interesse na troca
na via de duas mãos
no encontro da intuição
na falta de velocidade

sinto alegria de fato
na manha de toda manhã

no sol que amplifica seus raios
na chuva do entardecer

busco o prazer da postura
no ponto que tece o sorriso
na escolha do novo caminho
no giro das rotatórias

in-vento-me fé e paixão
que todo aprendiz deve ter
pra não se perder no sentido
do rumo da eternidade

que a força do olhar pode estar
focada na da próxima esquina
mas antes, pra sempre estará
inteira no próximo espelho

11 dezembro 2012

391



Possibilidade
ROGERIO SANTOS

quando a erosão
chega no olhar
pode ser mal
mas pode ser bom
pode ser o tempo certo
para que a poesia aflore

/

25 novembro 2012

390



Gangorra
ROGERIO SANTOS

sei de vento e de sol

como batem na pele
e se a água é de mar
quando o gole é de sal

e até sei de chão

e talvez não e sim

de azul na intuição

e se caio, por impulso

desço as pálpebras e subo
nas asas da imaginação

seja então, como for

um milímetro que seja
quero o céu
nos dois lados da gangorra

23 novembro 2012

389



Debandada
(letra para o tema de Tiago Saul)

Mais um dia
Diamante
- Sente -
Na rua eu sigo em frente
Na estrada eu sigo em frente
No azul eu sigo em frente
No mar eu sigo em frente
No céu eu sigo em frente
Com asas pra voar

Passarada
Debandada
- Sente -
Na rua eu sigo em frente
Na estrada eu sigo em frente
No azul eu sigo em frente
No mar eu sigo em frente
No céu um sigo em frente
Com asas pra voar

Dentro dos meus olhos o cristal
Reflete a luz do teu olhar
Levo nos meus olhos tanta pedra
Diamante é lapidar

Quando abro asas, céu de chão
Eu faço o ninho onde chegar
Cordas de viola som de flauta
E a canção é meu lugar

21 novembro 2012

388





Outro Motivo
ROGERIO SANTOS


sem mais nem menos
mais um samba vai nascer
um passo, um compasso
outro motivo a mais


um samba vem bater
na porta desse coração
bordão de uma oração
rompendo outra manhã


sem mais nem menos
é o amor quem vai chegar
com cheiro de limão
partindo a insensatez


sabor na intuição
e antes mesmo de provar
já sente o salivar
de outras ideias


pra um bom entendedor
meia palavra é o que basta
que vem pro violão
faz o carinho da canção


o samba é a cachaça
o amor é todo açucar
e o gelo é o suor
que é feito só pra derreter


apronta muito bem
outra batida de limão
mistura com paixão
noutro gostoso vai e vem


um samba vem bater
na porta desse coração
bordão de uma oração

outro motivo a mais


29 outubro 2012

387



Noite de Seresta
ROGERIO SANTOS

a singeleza é silenciosa feito a lua

feito água sempre em busca de fresta
e quando o amor então encontra as duas
rodopia o céu que é noite de seresta

é noite de festa em olhos aluados

e um choro se apronta no fundo da alma

feito um bandolim em dedos calejados
feito saudade de um tempo passado

a luz da lua nas cordas da viola

a água no suor das mãos do violeiro
e um cúpido elegante lançando uma seta
sopram a canção no ouvido do poeta

19 outubro 2012

386



Retrovisor
ROGERIO SANTOS

num hiato de silêncio
propus uma trilha sonora
que foi meio woodstock
que foi meio woody allen
era um toc, toc, toc...
de transtorno obsexivo
e meus dedos caminhando

imitando o som de passos
e era tudo combustível
nas curvas acentuadas
daquele corpo lascivo
aquaplanagem na pista
sobe desce compulsivo
e dei de cara no air bag
sei que acidente acontece
se escapei, foi só por Deus
e pelo freio ABS

14 outubro 2012

386



Trem Bala
ROGERIO SANTOS

amor que se vai é ilusão de ótica.
amor que se vai é folha ao vento
amor que se esvai é água de chuva
amor recolhe a raiz e carece de luz
amor pira e gira em quatro estações
amor é tão bom amor é trem bom
às vezes porque fere de tão doce
amor é trem bala

12 outubro 2012

385



Língua
ROGERIO SANTOS

enquanto eu tiver língua
por mim
ninguém passa vontade

eu apredi que a linguagem
é o melhor da sacanagem

08 outubro 2012

384



Aquarela
ROGERIO SANTOS

quando o azul é tinta...quando o sol é pinho...quando a lua é fosca... quando a vida é fusca...quando o chão é cinza...quando o verde é siga...quando o ar é chumbo...e o vermelho é mangue...

é "nóis tudo" na aquarela...progressão continuada...caminho de rio quase morto... de artéria exposta e cheia de mau colesterol... na luta intensa pra não afundar e desaparecer... é de poesia nossa bola, nossa escola...nossa bóia salvavidas...é caminho de tubulação, de sargeta... é caminho de córrego que despeja inexoravelmente o próximo passo...onde o farol é sempre amarelo...sou eu e você... seguindo destino líquido e certo...de tiete e Tiête.

04 outubro 2012

383




Quinquilharia
ROGERIO SANTOS

as ideias vem e vão

assim então
são plenas

até que tudo siga

desenlace
de margem de rio


onde enfim
recordação
senão apenas

reverso miúdo

quinquilharia
e inútil bagagem


as frases curtas
seguem sempre 
maiores viagens

principalmente

quando soltas
e sem encaixe

precedidas e sucedidas

de um sonoro silêncio
em rodopio
 
 

30 setembro 2012

382




Chinelinho
ROGERIO SANTOS
(para o parceiro Oswaldo Bosbah)

veja se tem cabimento
o que venho relatar
é sobre um bom violeiro
chama Oswaldo coisa e tal
disse que fez um bom samba
pediu a letra pra mim
agora somos parceiros
e eu tenho que acreditar

Meio Mahatma Ghandi
com paciência de Jó
eu ponho fé nesse time
Mas Oswaldo, tenha dó
me toca a bola de "prima"
que o jogo flui melhor
Tá parecendo o Valdívia
Chinelinho que ele só

se o samba sai da retranca
a gente altera o placar
quem joga pro zero a zero
faz o caldo desandar
por isso digo e repito
toca esse samba pra cá
quem tem medo de perder
perde a chance de ganhar


27 setembro 2012

382



O Vocábulo
ROGERIO SANTOS
(dedicado ao poeta Fernando de Oliveira)
 

o vocábulo vive pra ser citado pelo poeta
chinfrim que seja vive a contenda do mais esteta
por mais estranho que se padeça quando perdido
desencabula num dicionário quando sentido

assim a liga entre o poeta e esse safado
não está no livro nem na revista nem no tablado
está na sina de solitário que os acompanha
que tanto bate que tanto fura que tanto apanha

seguem grudados numa abusada onomatopeia
praticundum e prugurundum de uma centopeia
são ambos mulas também muletas de um mesmo hospício

mas quem é o cara que dá de cara com o precipício?
quer mais loucura que um poeta com seu auspício?
se dá um passo são quantos passos quem faz ideia?

01 setembro 2012

381



Solar
ROGERIO SANTOS

então vou virando canção
pra te pegar como quero
como quem tece elogios
pra te assaltar os ouvidos
como quem forja correntes
sem nenhum peso nos erres
com elegância de plumas
como serão nossos elos
feitos em brisas e brumas

como quem faz um caminho
quando um dia vira a mesa
quando costura os retalhos
quem escancara um sorriso
um solar de chão de céu
pra te encontrar como quero
do lado de dentro do muro
pra te assaltar os sentidos
como quem canta um bolero



31 agosto 2012

Aniversário de 7 anos !!!



7 anos. Coisa do destino.
Hoje meu livro vivo de poemas e letras faz exatos 7 anos de existência. 380 textos criados e postados durante esse ciclo. Em média, um a cada 7 dias. Por incrível que pareça, hoje faremos as provas finais para a capa e o encarte do CD "Crônicas Paulistanas", obra totalmente baseada em minhas letras e poemas. Obra concebida aqui, ao longo desses 7 anos. Por aqui também, inúmeros poemas publicados no livro da tribo e várias antologias. É uma data especial demais. Fazer amigos ao criar e espalhar poesia é uma função que aprendi a desempenhar e amar, sem jamais me preocupar com outra coisa que não a simplicidade do fazer.

"A poesia é o sobretudo que me cobre. O lado de dentro e o lado de fora"

Divido com muito prazer esse pensamento e essa data.

Sinta-se em casa por aqui, você que passa e colhe uma fruta.







27 agosto 2012

380



Balão
ROGERIO SANTOS

escrevo e solto, por aí, meus poemas
com o zelo de um menino e seus balões juninos

o que mais posso fazer para arriscar o céu?
o que mais posso fazer para jogar com os ventos?

criar algo bonito
que se eleve e desapareça até se perder de vista
e que, na hora de cair
seja capaz de causar um grande incêndio - de poesia

26 agosto 2012

379


Escorregador
ROGERIO SANTOS

é

e nó
é céu
o brilho
encantador
dos teus faróis
que vejo de longe
qual chakra na fronte
que curva ao entretanto
feito em luz, silêncio e som
rumo urgente degrau de poesia
flor do campo minado em sabores
onde és fruta temporã cintila impune
e um escorregador de palavras nos une
empresto meus versos para o nosso tombo
se tudo vira pó viro areia que assim seja em voz
poeta sem sentido quebrado vidro moído estilhaçado e atroz


13 agosto 2012

378



Navegar
ROGERIO SANTOS

navegar em águas calmas
navegar por ruas turvas
navegar nós desatentos
navegar também no vento

navegar em tempestade
navegar num fim de tarde
navegar na luz da lua
navegar pelo silêncio

navegar mesmo no grito
navegar na dor calada
navegar pelo infinito
navegar no mar estrada

navegar canto de pássaro
navegar beijo na boca
navegar novo elemento
navegar por todo tempo

navegar a flor do ventre
navegar mesmo conciso
navegar no amor urgente
navegar porque é preciso

29 julho 2012

377


(ilustração: centros da cidade 2001, de Nelson Screnci)

In Sampa
ROGERIO SANTOS

a tela do quadro é o momento
cidade - palavra com domínio
é minha casa de som ao vento

eis que agora estamos quites
pago o débito automático
com a alma em movimento

23 julho 2012

376




Quintessência
ROGERIO SANTOS

no mato, tem planta e poesia
e a vida segue, adoçando o dia
tudo verde, de palha a casinha
um cheiro de lenha que vem da cozinha
manhã de sol, convite ao sorriso
que tudo é telha e bom abrigo
e a tardinha, devagar vai caindo
e aquele cheiro de café subindo
uma boa prosa, uma cachacinha
e tudo que é vida se repartindo
ah meu Brasil, pião-bandeira
de mastro madeira e amizade
tua gente é tão verdadeira
que a quinta cor e quintessência
se bem reparar, é só saudade

21 julho 2012

375



Oficina
ROGERIO SANTOS

na linha do limite do que vejo
do que pinta de soslaio de lampejo
ponho de pé um ovo e um bobo

para além da cortina a semântica
para o bem da caneta minha Atlântida

apronto mergulhos atabalhoados
na piscina dos delírios elevados
e respiro um olhar se volto à tona

o mar possível da lucidez é a cama
meu peito oficina de páginas e dramas


09 julho 2012

374







Outro dia
ROGERIO SANTOS

pode ser que hoje eu pague pra ver
pode ser que hoje o sim seja mais
até hoje não sei de querer evitar
as palavras surgidas em ondas de mar

pode ser que o amor, todo amor, seja assim
justo assim que de tanto bater brota em mim
eu só sei que se é noite e é dia também
tudo dança a girar, meu olhar vai e vem

que sou todo um olhar que hoje onda de mim
vem da alma, do corpo, do poro, do pé
já não vejo e se vejo é que imploro pra ver
outro dia que vem, que outro dia é você

24 junho 2012

373



Cortinas da Alma
ROGERIO SANTOS

as cortinas da alma tremulam
esfarrapadas e lindas
desenredados retalhos

bem velhas e únicas
são túnicas ricas em detalhes

e um quê as balança
e um quê as afaga
as acaricia e rasga
aviva e finda

e não é o vento
mas também tormento

é a voz
com a constância do tempo
desafiando e desfiando os entalhes


13 maio 2012

372


Por Dentro da Letra
ROGERIO SANTOS
(Musicado por Thais Nicodemo)

por dentro do texto
uma frase
por dentro da frase
um verbo
por dentro do verbo
uma sílaba
por dentro da sílaba
uma letra

e ali, por dentro da letra
um olhar pede breu
um grito pede silêncio
um respirar pede calma
e amar pede outro tempo

e ali, por dentro da letra
a quebra do paradigma
o gosto da especiaria
o cromossomo da poesia
como um prato da comida

e ali no meio do quase
tem o ponto do avesso
é nele que se prende
se aprende e se desprende

a semente que é urgente

22 abril 2012

371

                                       (foto: arquivo de Rose Tóffoli)

Lugar
ROGERIO SANTOS

empírico dicionário
de tudo quero saber
e tudo aqui vou guardar
enquanto a vida durar
enquanto lugar traduzir
do aramaico ao sânscrito
o som da túmida concha
na pausa do palavrear
na minha ilusão carregar
o som do mar no teu corpo
num sísmico abalo semântico
que faz meu andar revirar
curupirar de romântico
de tanto o calor desenhar
na carne das minhas mãos
nas linhas de fundo quântico
as manhãs de sublimar
o que carrego-me em ti
lato sentimento tântrico

19 abril 2012

370


Que faço agora?
ROGERIO SANTOS

que faço agora?
acho que dei na vista
a timidez na poesia
deixou pista

porque você
tem tanto pra me dar
no dicionário
adjetivos vão faltar

a vida eu sei
segue linhas tortas
depois do primeiro olhar
Inês é morta

seus olhos deram senha
pacientemente estou
inteiro entregue em versos
de amor

07 abril 2012

369



Ecrã
ROGERIO SANTOS

o samba
é vão de tristeza
fenda na chave da voz

ecrã de beleza

feito do corpo
da mata
do solo moreno

concha de anil
verde dom
de cachoeira

da terra mãe
com deus sol
quadris de vento

do alarido rompante
das três raças

da latitude latente
em nossas praças

05 abril 2012

368




Nós atados
ROGERIO SANTOS

eu quero estar
aonde esta o sol
na íris dos teus olhos
de quintal
na foz do teu sorriso
contido
estrela de arrebol

eu quero estar
no gume de uma faca
na ponta de um anzol
segredo de uma chave
fagulha e enclave
sentido no lençol

eu quero a face
de viver promessa
de assim tão certo
sermos nós atados
silenciados
e livres no amor

eu quero então
dizer mais nada
pegar tua mão
dar outro passo
na mesma estrada
da tua linha
do coração

03 abril 2012

367


Do chão
ROGERIO SANTOS
sábio é o velho ditado
"quem cai, do chão não passa"
eu concordo com o dito
mas complemento o riscado

que se o nego for poeta
quando o cara atinge a pista
desde que prenhe de versos
mei gordinho, o bicho quica

e se for dia de seca
de estiagem de poesia
esse cara mei magrelo
carrega uma letra alquimista

uma vez que serve o verso
vira avião de papel
e é assim que o nego voa
direto do prelo pro céu

01 abril 2012

366

Prumo
ROGERIO SANTOS

a saga do homem é vento
o tempo do homem é fase
a adaga do homem é pira
a lira do homem é dentro
a nave do homem é quase
a cria do homem é hoje
o orgulho do homem é nada
a muda do homem é sempre
a mina do homem é olho
a cela do homem é impar
o ouro do homem é sonho
o choro do homem é mar

30 março 2012

365

Silêncio
ROGERIO SANTOS

quando tudo silencia
feito barulho de onda
em braço de mar abrigado

som do quase evidencia
o quanto amolo de faca
e afio a poesia no mó

nesse tanto que me calo
digo muito e nada falo
feito estrela em noite clara

feito lua em terra arada
quando na lingua do nada
fagulha de lâmina e pedra

é lume de fogo de nave
é chama de amor temporão
e tanto bate até que medra

28 março 2012

364







Sustenido
ROGERIO SANTOS

abre os canais da alma que tudo pede um já
- a pausa
- a causa
- e a mucosa...

- lín-gua-es-pe-ran-to

sus de viver acalanto e acalentar encanto

meio giro de lua cheia nos visco de um bem bom
vestir-se de poros e pururucar pororocas de lume
pois é mesmo no bojo desse mundo obscuro
que ainda se acha vaga pra virar vagalume

26 março 2012

363


Onde
ROGERIO SANTOS

diamante é diamante se não pesa
sabe a pluma no ar quanta inveja
do dia da noite do mar e da lua
da arte da vida no giro do cosmos
de pedra de água um foguete dileto
no cerne da carne do azul indiscreto

viaja no rumo do centro do ventre
onde bate onde fenda onde funde seu norte
nas pontas do eixo de um mesmo universo
revira a matéria na pira da sorte
até que um poeta reparta e desvende
a sede e a fome de um só sedimento

24 março 2012

362


Piquenique
ROGERIO SANTOS

quem está sempre no pique
tem meio caminho para um piquenique

22 março 2012

360


Sujeito Oculto
ROGERIO SANTOS

um sujeito oculto recluso no aço e concreto
de flanco medroso preposto de verbo indireto
a boca uma via rompida por um pontilhão
e a puta da vida clamando por um catavento

...sonha o dia inteiro com seu travesseiro
vende seu trabalho por qualquer dinheiro

dá ênfase a fase na frase que já se constrói
na grua que iça o avesso da sua preguiça
a chuva frequente na esquina que tolhe o verão
são pólos opostos de corpos no chão de janeiro

...sonha o dia inteiro com seu travesseiro
vende seu trabalho por qualquer dinheiro

a faca é o relógio no sino de uma catedral
e a vida pulsando velada sem mais argumento
é polpa de fruta madura num congelador
do tempo que abraça o sujeito e sufoca o momento

...sonha o dia inteiro com seu travesseiro
vende seu trabalho por qualquer dinheiro

20 março 2012

359





Poema para a Amanda
ROGERIO SANTOS

siga entre o oito e o oitenta
velocidade ideal trinta e seis
nem tão veloz, nem tão lenta
esperteza demais não convém

que a vida é como a comida
que só se prepara uma vez
põe capricho no tempero
que o sal é a gosto do freguês

18 março 2012

358


Depurativa
ROGERIO SANTOS

eu vou remar e descobrir a rima
de figueiredo com silimarina
pra ver se dose dessa esteatose
dá uma maneirada e deixa de fibrose

eu nunca mais cai na canjibrina
só no suquinho, só na tangerina
até plantei comigo-ninguém-pode
e fui pra academia sem pesar o bode

a feijoada estou desconjurando
pra dobradinha pouco me lixando
eu quero é soja bem texturizada
broto de alfafa e flor de beterraba

portanto amigo dê uma maneirada
não me convide pra outra balada
que amanhã eu sei que acordo cedo
pra livrar o dízimo do Edir Macedo

porque se o corpo já não tem mais jeito
a minha alma sai para prefeito
e se algum dia eu recair no samba
só se for feitiço de alguma fubanga

14 março 2012

356

Fogo
ROGERIO SANTOS

foi tanto fogo
que acabou em fuga

deu tanta pena
que acabou poema

12 março 2012

355





Mentira?
ROGERIO SANTOS

é muito fácil - filosóficamente falando -
alguém se livrar de uma mentira que tenha as pernas curtas

eu quero só ver é quando pintar uma mentira
de pernas longas, lisas e bem torneadas

10 março 2012

354


Embromation
ROGERIO SANTOS

não seja injusto com as bromélias
:
só um verdadeiro parasita
sobrevive da arte de embromar

08 março 2012

353





Menos é Mais
ROGERIO SANTOS

aos amigos tagarelas
deixo um conselho-oferenda

tente a palavra certeira
a chave do aperto da fenda

06 março 2012

352






Próximo Passo
ROGERIO SANTOS

ninguém passa imune
ao próximo passo

é pedaço de linha da vida
de desembaraço

04 março 2012

351


Wash me
ROGERIO SANTOS

lave-me palavra
leve-me palavra
e juro que calo uma praga
e juro que jorro de alegria

leve-me palavra
lave-me palavra
e espalhe pela pele
que trago no poro a poesia

02 março 2012

350

Aroeira
ROGERIO SANTOS

desabou agorinha
na minha cachola
um novo poema

sem eira nem beira
na simplicidade
da flor de aroeira