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31 agosto 2015

551



Jazz
ROGERIO SANTOS

poesia sem rima
é pra se pensar
a rima cisma
e cisca no olhar

poesia com rima
é coisa de ninar
encanto num silêncio
que paira no ar

assim são as linhas
as canções e as melodias
tudo do melhor que se faz

e as mesquinharias
pesadas mentiras
invejam a poesia, aqui jazz

/

22 agosto 2015

550



Frase
ROGERIO SANTOS

busco uma frase
para contemplar
que seja essência
viagem serena
preceda a fala
no centro da alma
abrigo e silêncio
no fundo do ar

aquela certeira
que pegue de jeito
que traga o vento
que eleve a nuvem
que faça a chuva
que seja a soma
da última conta
de um belo colar

somente uma frase
com cheiro de mato
que seja pergunta
que traga resposta
um gole de dúvida
que mude o mundo
que venha no peito
e me faça planar

asas da palavra
- eu quero voar...

08 agosto 2015

549



Elas (ou Lua Azul)
ROGERIO SANTOS
(Letra feita sob encomenda para um Xote muito bonito)

Sás morena vei de lá
Pra bagunçar com meu coração
Ai doutor, não tem remédio, não
escuto a flauta, o fole, e caio no salão

tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac
é nessa hora que sinto a coruja piar
- valei-me! ...deixo o xote me levar

a noite inteira, até de manhã
ai doutor, o meu remédio, então
é quando o sol se chega e “estrala” no salão

tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac
e nessa hora que sinto a coruja piar
- valei-me!

Zabumba no meu coração
Eu e elas assim a bailar
Se der um piripaque, seu doutor
É por amor que eu nasci pra morrer

Um triângulo nas mãos
Outra noite na beira do mar
No céu flutua a lua azul

Ai, doutor eu vou (5x)
Eu vou morrer de tanto amar

/

25 julho 2015

548





Flor de Amendoim
ROGERIO SANTOS

fiz do silêncio morada
do pensamento um jardim
meu olhar é uma varanda
com perfume de jasmim

quando a chuva vem, me molho
choro a chuva que há em mim
e a tristeza faz que voa
feito flor de amendoim

minha janela é no teto
o tapete é gergelim
minha sala é um orquidário
na geladeira, um pinguim

a vida é uma casa aberta
com paredes de xaxim
tem a porta sempre certa
pra quem sabe dizer sim


/

19 julho 2015

547





Freguesia do Ó (2)
ROGERIO SANTOS

o silêncio da manhã
de um domingo de sol
é poesia no céu
da freguesia do ó

a cidade matou
a contemplação
e nos entupiu
de barulhos

mas o sino da igreja
de sons ancestrais
insiste em cobrar
quem se distrai

na sina dos edifícios
a geometria do olhar
um passo adiante
sem sair do lugar

na rua de baixo
ainda mora a menina
que arrasa o quarteirão
com seus "erres"

a cidade
manda mensagens
que não entendo bem

- sou mais do interior -

um cheiro de café
interrompe o despertar
adormeço e sigo
com última estrela que se vai

/

16 julho 2015

546





Brincadeira de Martim
ROGERIO SANTOS

Para amanhecer, você se foi
Foi adormecer no Ceará
Sente quando é noite por aqui

E o amanhecer é o despertar
É deixar o corpo flutuar
Solto pelo vento de Jeri

Prender luar e dar bandeira
Aprender a calar de brincadeira
Feito um martim, pescar estrelas
Ver o dia azular, de pé na areia

Quando anoitecer também me vou
Quero acontecer no Ceará
Sempre chega o dia de seguir

Quando entardecer feito abraçar
Como o sol se põe no mei-do-mar
Vento é som de flauta por aqui

Prender luar de brincadeira
Aprender a calar, de pé na areia
Feito um martim, pescar estrelas
Ver o dia azular e dar bandeira

/

24 junho 2015

545





Relevações
ROGERIO SANTOS

as palavras não tem peso

um lenço é âncora
uma bigorna voa
um pássaro chora

as palavras reclamam domadores

um dicionário amamenta
um jornal embrulha o peixe
e nada

quem se come
saliva pelos olhos
e mastiga pelos ouvidos

a boca é via de mão dupla

/

04 junho 2015

544



Sopa de Letrinhas
ROGERIO SANTOS

quem te isola, sonho meu?
quem te faz indivisível?
quem te ensina a entrar na dança
dos passos de Deus?

quem te espera seu?
quem te intima ou intimida?
quem te sopra as entrelinhas
que inventei no breu?

quem te dita a poesia?
quem te aguça o paladar?
é uma sopa de letrinhas
que tem tudo pra contar

cada dia, um dia menos
cada dia, um dia a mais
mas é hoje o outro dia
de escolher colher a paz

pois a vida é uma menina
que descobre o que é passar
e é num piscar de olhos
vai parar noutro lugar
/

14 maio 2015

543





Papo Cabeça
ROGERIO SANTOS

minha cabeça vai bem
equilibrada em cima do corpo
minha cabeça até que zen
estranha a lentidão com quem me movo
um corpo em nós e uma cabeça veloz
cabeça olímpica com pernas de Usain Bolt
as pernas em trote na cadência dos vinte volts
mas nada evidencia ruptura ou curto-circuito
tudo indica que seguem juntas até a morte
é um tradicional casamento por conveniência
com a cabeça amante da preguiça
e as pernas amantes da paciência

19 abril 2015

542





Curintia e Parmera
ROGERIO SANTOS

Domingo é dia de derby
E também de feijoada
Fui convidado pro jogo
E pra traçar essa danada
Respeito as agremiações
Mas tô de olho é na comida
Depois que rolar a partida
Vencido e não derrotado
Arrotarei feito um porco
Tal fosse a finada iguaria
Farei soltar meus rojões
Como só um gambá o faria
E a culpa será dos feijões
Para os quais peço expulsão
E apelo à arbitragem:
Se a latrina é o campo de jogo
Que não haja impedimento
Que o final seja o bom clássico
E não prevaleça o entrave
Que quando a bomba sair
O tiro viaje certeiro
E a "merda" não bata na trave

09 abril 2015

541



Que Chico não veja
ROGERIO SANTOS

aquela moça
de adorno poético
cravado na pele
esfinge na boca
lascívia e olor

aquela moça
de distância confusa
entre os pés e a nuca
entre o não e o nunca
entre o já e o até

aquela moça
de relógio invisível
na névoa fria
com choro de flauta
com toque de flor

aquela moça
de cepa sublime
de olhar terra roxa
compassos certeiros
ataques espertos

aquela moça
tem nela poesia
que dá uma canção
(que Chico não veja
que entorna no chão)

/

05 abril 2015

540



Via Crucis
ROGERIO SANTOS

o poema é meu calvário
é onde me entrego à cruz
do escasso vocabulário

cada palavra é um prego
meu sudário é um dicionário


04 abril 2015

539




Pardo
ROGERIO SANTOS

meu primeiro poema
escrevi num caderno
encapado com papel pardo

era um poema infantil
como o coração de quase todo brasileiro
que carrega poesia no sangue

não era europeu
não era índio
não era negro

lembro que era humano
quando o olhar procura a pele

e era europeu
e era índio
e era negro

e era bem brasileiro

e era judeu
e era árabe
e era também oriental

a cor da pele sob os olhos

que eram verdes
que eram azuis
que eram castanhos
que eram negros

que eram redondos
que eram mestiços
que eram amendoados
que eram puxados

e, o que contava
era a pele sob os olhares
onde se suporta cores
onde o arco é um outro barco

e eram os olhos
do coração de um brasileiro
que marejavam

como tantos
um menino poeta
e sua visão

sob um olhar
de farol

de pele parda

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02 abril 2015

538



Tríade
ROGERIO SANTOS

meu sim...
meu não...
sempre vestem reticências
são de triangulação
amantes endiabrados
do talvez...

31 março 2015

537



Lugar Movimento
ROGERIO SANTOS

hoje eu venho pra cantar
a poesia do meu lugar
meu lugar é o movimento
quando a voz que vai no vento
feito um voo de semente
é o amor que eleva a gente

27 março 2015

536



Pensata
ROGERIO SANTOS

quando a luz é poética
não há treva
não há túnel que se atreva

19 março 2015

535



Pensata

Galileu descobriu que a Terra era redonda
Hoje é fácil deduzir o quanto está ficando cada dia mais chata

12 março 2015

534



Estrada do Contorno
ROGERIO SANTOS
(letra para tema de Andréa dos Guimarães)

via, lá na casa da praia, a Taperá
já deu seu tempo de chegar
e o João-de-Barro vai sofrer

dia mal raiou, a briga vai começar
é a natureza dos dois
de se enfrentar até saber
quem vai errar por aí
quem vai ficar
pra aquecer, de novo, o amor

a dança que acontece no ar
um ciclo que enternece
que a vida engole o olhar

havia lá na beira do mar, um coqueiral
e o caminho era um contorno
um sonho bom de recorrer

sempre eu e você
da nossa casa, a espreitar
se o vento sul vem bater
se vai chover, se o amor se for
despenca o céu que vai verdejar

ceivar

/

28 fevereiro 2015

533

    (Foto: Lauro Lisboa Garcia)

Fortaleza
ROGERIO SANTOS
[(inspirada na) foto de Lauro Lisboa Garcia]

A poesia quando concreta
tinge em cores
as pretensiosas paredes

Subverte areia e água
terra e suor
invade fendas e fissuras

até caber exata
na alma dos tijolos

e num piscar de olhos
o que era uma fria fortaleza
enche os olhos de jardim

se um outono é negativo
a primavera sela-se em mim

/

03 fevereiro 2015

532



Pontiagudos
ROGERIO SANTOS

um abelha
me picou o pé
uma vespa
me picou a mão
uma agulha
me furou a orelha
um amigo
me furou os olhos
e o cupido
[que fugiu desavisado]
acertou meu coração
e está amplamente desculpado


/

20 janeiro 2015

531



Palavra de Poeta
ROGERIO SANTOS

na mente do poeta,
a palavra é semente
a palavra floresce
na boca do poeta

nas veias do poeta
a palavra bomba
a palavra escorrega
na sombra do poeta

na pele do poeta
a palavra descansa
a palavra inspira
no peito do poeta

nos olhos do poeta
a palavra se fecha
a palavra brilha
na alma do poeta

e na face do poeta
a palavra é bonita
a palavra se excita
no colo do poeta

nos lábios do poeta
a palavra namora
a palavra se entrega
na língua do poeta

17 janeiro 2015

530



Resedá
Melodia: ANNA PAES
Letra: ROGERIO SANTOS

Entre as ladeiras da cidade ela se pôs
O olhar levando o que já foi desse lugar
No céu o mesmo azul reconheceu
Um suspiro feito o seu
Caiu do pé de resedá

Outras paredes
Outros pássaros no ar
As novidades que vieram pra ficar
Um arranha-céu que arranha a alma
Um fim de tarde que chegou
Antes do luar

Ah! Que lindas noites memoráveis
Uma, nem, duas talvez, três era pouco
Meu canto atravessando a madrugada
De déu em déu, bar em bar,
Coisa boa relembrar

Lágrimas nos olhos que me escolhem
Sabem bem como sonhei em te encontrar
Pra dizer o que não disse - do amor -
Pra caminhar enrolado em teus cabelos,
Feito flor de resedá.

Quantas vertigens a vaidade nos impõe
Se desatentos embarcamos sem pensar
Descaso é caminho pra descer
Faz a gente se perder
É pirambeira e despencar

Mas chega o tempo de buscar o que ficou
E a saudade é uma ladeira pra encarar
Quando falta perna e vem a conta
O tempo passa, o amor se foi
Nada vai voltar

Tempo de regar meu pé de resedá
Fazer um coração
Nele declarar o amor que eu sinto por você
Dele recolher um novo choro canção

Gente que não chora não merece compaixão
Entrego aqui esse meu canto 
Feito em forma de oração
Pra de vez fazer valer
O encontro desse conto em desencontro
Pra também pedir perdão

Entre as ladeiras da cidade ela se pôs
O olhar levando o que já foi desse lugar
No céu o mesmo azul reconheceu
Um suspiro feito o seu
Caiu do pé de Resedá

Outras paredes
Outros pássaros no ar
As novidades que vieram pra ficar
Um arranha-céu me arranha a alma
O tempo passa, o amor se foi

Nada vai voltar

15 janeiro 2015

529

(Foto: João Paulo Gonçalves)

Gibraltar
(Letra: Rogerio Santos)
(Essa letra foi feita para uma melodia, e aguarda desdobramentos)

Se o amor pra ela é um companheiro a mais
Pira de quimeras que não se desfaz
Se o amor é um porto sempre tão fugaz
Tábua de outros mares e outros litorais

Se o amor pra ela é sorte a se lançar
Sente um novo norte em cada novo mar
Se o amor é corte, a carne, então é cais
Erra, enquanto erra mais

Se o amor pra ela é sempre circular
Leva meu querer, sirena singular
Se o amor é morte, o ciclo se refaz
Ela, enquanto erra, jamais

Se o amor pra ela é feito velejar
Íntimos estreitos de colecionar
Se o amor, Mar Morto, salga até matar
Abre um oceano, ante Gibraltar

Se o amor pra ela é sorte a se lançar
Sente um novo norte em cada novo mar
Se o amor é corte, a carne, então, é cais
Erra, enquanto erra mais

Se o amor pra ela é sempre circular
Leva meu querer, sereia singular
Se o amor é morte, o ciclo se refaz
Ela, enquanto erra, jamais

/

01 janeiro 2015

528




Planos de Curto Prazo
ROGERIO SANTOS

- no primeiro minuto do ano:

abraçar e beijar o meu amor
abraçar e beijar os meus amigos
tomar meia garrafa de champanhe
sorrir e pular sete ondas
ficar nu e mergulhar no mar
contemplar constelações no céu escuro
sentir de perto o som das águas
pisar o chão com o corpo inteiro
respirar consciente do fato
agradecer por mais um ano
agradecer por mais um dia
agradecer por sentir poesia
pedir lucidez, saúde e proteção
para a escolha de novos caminhos
nos quinhentos mil minutos que virão