Visualizações

28 dezembro 2008

204



Pingente
ROGERIO SANTOS

enquanto uma palavra puxa a outra
enquanto rolam umas frases soltas
sigo trepado no pára-choque da poesia

nem sempre quer dizer muita coisa
além da inércia até o próximo parágrafo
no trânsito caótico de absurdos diários

os apressados que verbalizem pra todo lado
eu prefiro ficar calado valorizando meu tempo
e economizando a borracha para a sola do sapato

26 dezembro 2008

203



Em tempo
ROGERIO SANTOS

ainda menino aprendi
com o tempo e à tempo:
........fique parado
........e a vida passa

por conta disso
dei de ombros
aos acomodados:
........peguei carona
........e segui em frente

não sou de dar mole
para arrependimento:
........sorrir é urgente
........e agora é o momento

(a vida não passa duas vezes
e correr atrás deve dar uma canseira...)

23 dezembro 2008

202



Transitivo
ROGERIO SANTOS

não penso em nada
quando saio às ruas
só de olhar pelo verso
e transgredir leitura

não há trânsito
que me segure
não há faixa
de rolagem
que me enrole

não há rodas
não há moldas
nem há mulas

não me invente
quebra-molas
não me impeça
que acelere

é café pequeno
e vá tomar no
drive-thru

coma seu medo
e que a poesia
te atropele

17 dezembro 2008

201


(foto: Luciana Whitaker)


Alma Lavada

ROGERIO SANTOS


as pedras que rolam no rio

com o sorriso que trouxemos

não são simples fragmentos

quando chove, e chove forte


no vento incomum que bateu

pássaros voaram nossos planos

na água que escorre em meu rosto

não cabe a lágrima de ontem


e bem por isso, é moça no trapézio

porque se sabe arrebatando encostas

e todo o olhar que aflora triste

na alma não faz sedimentos


aquela lágrima de ontem

filha de forte frente fria

foi gelo num copo de uísque

e também teve o seu dia


a água que escorre em meu rosto

eleva uma nuvem menina

e chove erosão de alegria

em persistente garoa fina


08 dezembro 2008

200



Nebulosa
ROGERIO SANTOS

cala a fala teu poema
há anos-luz de luneta
são mil estrelas meninas
gametas na gravidade
mail passeio girândola
bissexto com mais de mil dias
e nessa viagem não me há Fobos
amar-te e a galáxia é pequena
constelado céu-da-boca
vela na sopa de letras
vento lunar teu poema
reverso de viagem plena
nave nos confins da língua
satélite feito fonema

02 dezembro 2008

199




Zorra
ROGERIO SANTOS

vivo cercado
por tanta zorra
que sou obrigado
a me fazer de tonto
uma vez ou outra