24 dezembro 2007
135
Lima-da-Pérsia
ROGERIO SANTOS
não te aflijas
pelo que não falo
que te entrego
tudo aquilo que calo
uma fonte
vertendo teu nome
uma lua
no teu horizonte
essa pele
em busca do afago
no desejo
bem dissimulado
flutuar pelos meridianos
no sorriso
que tenho guardado
nos teus acres
tão bem demarcados
território traído no mapa
no teu viço
por cada centímetro
seja eterno
esse som do teu trino
e o aroma
de lima-da-pérsia
no perfume
na tez do tecido
na visão
paraíso do olfato
paladar
dirigível no tato
ouça moça
no veio do laço
não te aflijas
pelo que não falo
10 dezembro 2007
134
Poema Calado
ROGERIO SANTOS
dá dó de poema
com pouca trama e muita trema
dá nó no poema
o muito drama, a pouca cena
adoro poema geográfico, pornográfico
adoro poema espiral, espacial
dá dó de poema esquelético, arquétipo
dá nó no poema, o lânguido, o pândego
adoro poema de rio, de mar
adoro poema calado; calar
parte, profundidade da fruta
da sanha, da carne, da gruta
nem tudo é pavão, misterioso leito
são rios e rio, e rio calado
embarcado na mesma viagem
em busca do equilibrio absoluto
margem direita palavra
margem esquerda intuição
acionados sonares dilemas
sigo calado e flutuo poemas
133
Arrependimento
ROGERIO SANTOS
Chorei uma Guarapiranga por você
Já fui até Marsilac prá te ver
Pensei em fazer rapel na Sumaré
Quem sabe me vias no SPTV
Eu sei que tem muita gente por aí
São quase uns vinte milhões (ou por aí)
Mas eu sou sentimental, fazer o quê ?
Não fecho meu quebra-cabeças sem você
Não sei bem ao certo porque me abandonou
Meu peito tem hoje mais túneis que o metrô
São Paulo é uma esquina e a gente vai se ver
Não fecho meu quebra-cabeças sem você
Bixiga foi onde tudo começou
Você garçonete lá no bar do PT
Eu ia tomar saideira na calçada
Até te cantar prum café no meu chatô
Do beijo pro amor foi uma questão de tempo
Do amor pro ciúme não sei porque razão
Eu nunca fui homem de bater em mulher
Só nuns militantes do PSDB
Cheguei até Pedra Branca e fui a pé
Olhar lá do alto se via algum porque
Lembrei da minha Cantareira de paixão
Na boca de urna do FHC
O ciclo fechou como uma obturação
Até os "companheiro" são tudo "pelegão"
Eu vou te encontrar numa dessas batucadas
Contar que hoje em dia até eu tô no "centrão"
Comprei um par de sapatos, e dos bons
Comprei duas taças e um moet chandon
É tudo prá ti, meu amor, meu coração
Saudade em doze parcelas no cartão
Dou casa, comida, calor e um mensalão...
02 dezembro 2007
132
23 novembro 2007
131
Estação Orbital
ROGERIO SANTOS
uma saudade repentina
arrebata meus hemisférios
é na curva do teu cheiro
furta-fogo chocolate
constelado céu da boca
libe o ventre do poema
e não se lê pelas vitrines
beijo caco verossímil
cruza o cosmo feito um míssil
e atinge o alvo espelho
ao errar na madrugada
Ganimedes pira em órbita
Io em teu lábio inferior
e milimétricos tremores
no epicentro da epiderme
07 novembro 2007
130
Carmim
Música: Marcelo Maita
Letra: Rogerio Santos
por criar raiz
dentro dos teus olhos
não sou, sem você em mim
tatuei com os meus dentes
teus lábios, os teus carmins
(meus carmins)
cada beijo teu travado,
envolto - exorto
via vasos, nu jardim
deflorando primaveras
quimeras na luz cetim
dos teus carmins
vôo refém pelo teu céu
da boca fito a manhã
e da paixão cega
essa luz faz o dia
relance, festim
explodem cores pelo ar
e vão tomando azul do mar
descortinando o amanhecer
não vou fugir desse destino
ser, nesses ecos de você
dança de sonhos pelo ar
e vou morar no teu olhar
em cada novo amanhecer
flor, raiz, amor
você...
27 outubro 2007
129
24 outubro 2007
128
Beijo-Torpedo
Poema: ROGERIO SANTOS
Música: TONY PITUCO FREITAS
Ouça Aqui - Voz e Violão - Tony Pituco Freitas
num dia nublado desses
te mando um beijo-torpedo
e explodo tua boca carmim
o susto será tão grande
que ficarás assim...assim...
enquanto pensas no fato
no zapt da situação
me cravo no teu coração
tatuo minha boca em tua nuca
e será tarde pro fim...pro fim
127
Gol ou Google ?
ROGERIO SANTOS
quando se sai a caça
de nova palavra
aquela, no emaranhado
que fecha o sentido
que cria o atalho
que corta o caminho
que estala as idéias
que geralmente cozinham
na fuça, na cara
mascando batalha
no nó do novelo
no cortante da linha
promessa de vôo perene
quando se pega de jeito
a palavra engendrada
aí chega a hora
de ir pro abraço
temperar a salada
de dar a garfada
de meter a boca
de matar a fome
de gritar bem fundo
do fundo da alma
da linha de fundo
da bola cruzada
na entrada da área
o pique, a chegada
é gooooooooooool
(ou google ?)
19 outubro 2007
126
Preciosa
ROGERIO SANTOS
teus olhos vitrines
trines, trines, trines
teus olhos vitrines
multicolorido todo
defletor rubi
mó esmeralda
botica jaboticaba
trine, vitrine, trine
vitrine, trine, vitrine
vitrificado toldo
mosáico modelo
prosa poética
vivanexa vitrine
farol turmalina
curvilínea anca
avança dégradé
viril vitrografia
su-bli-me
10 outubro 2007
125
( O beijo: Gustav Klimt )
Beijo Perdido
ROGERIO SANTOS
um beijo em silêncio
invade a noite carioca
enquanto uma bala perdida
busca um alvo adormecido
o sol que escorre da flor
na síntese do alimento
no instante derradeiro
o beijo busca um abrigo
no porta-retrato da estante
paira um recorte argumento
é como se nesse silêncio
ainda portasse um sorriso
o beijo jogado no tempo
explode no meio da boca
para a bala contratempo
de movimento tenente
a bala em fração de segundos
coadjuvante em contracena
se cala atingindo a parede
29 setembro 2007
124
( De 01 à 06 de Outubro, vou curtir esse congresso... Também sou filho de Deus e de Baco...rs )
A festa de Bacca
ROGERIO SANTOS
na verve do vinho
há tinta de sangue
que jorra no verso
na taça onímoda
o brinde-cidade
da festa de Bacca
sagrada vindima
colheita bendita
tinteiro de Baco
enfeita a fruteira
centelha poema
de átomo ato
( Para o poeta Ademir Bacca )
09 setembro 2007
123
Reforma
ROGERIO SANTOS
em casa sou asa
em caso que eleja
peleja e litígio
inseto de frutas
quintal de palavras
sou lavra de larvas
minhocas, lampejos
prego percevejos
martelo de letras
ampulheta, paráfrase
parafuso difuso
alicate abacate
sabor enjambrado
por sal e açucar
extraio das sobras
de sombras profusas
a seiva do novo
reciclo o telhado
espatifo as vigas
e me recolho lenha
07 setembro 2007
122
Na tua porta
ROGERIO SANTOS
tudo é mistério
nesse teu jeito
sempre deflete
tudo que penso
abafa um grito
nos quatro cantos
não deixa frestas
na tua porta
nem há escada
para a sacada
nem um caminho
para os teus olhos
de tua língua
nas madrugadas
de quando falo
aos quatro ventos
do meu amor
trocado em versos
é como fosse
sangrar de morte
em toda língua
que não falamos
que não beijamos
por todo lado
ensandecido
quarto de lua
que já não tenho
lado de dentro
evaporado
por todo poro
por onde choro
ejaculado
01 setembro 2007
Folha de Cima Comemora 2 anos !
121
Braçado
ROGERIO SANTOS
trago dentro de mim
um horto
onde cultivo minhas flores
onde colho meus próprios frutos
onde ouço o canto dos pássaros
onde caminho nos finais de tarde
onde transito pela seiva de acordes
entre tantas e generosas árvores
que abrigam com boas sombras
as borbulhas úmidas do chão de terra
onde o tempo deposita cada folha
num abraço outonal afetivo
no ciclo das quatro estações
alheio aos alardes acachapantes
dos que propagam flores de plástico
emblemático e precioso resplendor
na contramão da nespereira florida
22 agosto 2007
120
16 agosto 2007
119
Elegância
ROGERIO SANTOS
a elegância
vai muito além
da aparência
apresenta toques florais,
amadeirados
imunes a percepção
de qualquer olfato
brilhos vitrais
multicoloridos e invisíveis
nuances e tons
com uma dose prima
de sinceridade
a elegância é um conjunto
e toca nota por nota
uma doce melodia
até invadir todo espaço
e por para bailar os sentidos
13 agosto 2007
10 agosto 2007
116
Meio-Fio
ROGERIO SANTOS
Asfalto
A água bate forte
Busca o fundo do vale
Desce ladeira
Bueiro entupido
Uma criança brinca na corredeira
Com barquinho de papel
A água não escolhe caminhos
Arrasta o barquinho
Arrasta a criança
Cruel geografia
Da vida por um fio
Da janela do edifício
Uma família acompanha
Arrasta os olhos
Não pode fazer muita coisa
Uma lágrima no ar
Sirenes e luzes
Aprontam a luta
Na boca da noite
Pressentindo a escuridão
A cidade grita
Atrai carniceiros
Entre nuvens indecisas
Lamúrias, lamentos
O tempo melhora
Mas não para todos
O rio arrasta uma vida
Triste canto do tiê
27 julho 2007
115
Santa Clara
ROGERIO SANTOS
abençoai, Santa Clara
os olhos de quem repara
nos tantos sóis que carregas
no prisma das gotas d´água
quando repousa nos seixos
quasar de rara escala
um mantra de percussão
ametista e diamante
por cada conta do terço
a luz resplandece na aura
no gelo da ducha vertente
mergulho meu sétimo chakra
no compasso desse encontro
corredeira inusitada
deposita sedimentos
na trilha da Pedra Selada
por isso sou teu devoto
e deixo promessa paga
um poema verdadeiro
pelo caminho das águas
23 julho 2007
114
Pecado Original
(A verdadeira Peleja de Adão)
ROGERIO SANTOS
enquanto Adão
mordia a maça
a cobra malandra
espreitava a aranha
doidinha por rango
naqueles confins
sem gato nem lebre
urubu vira frango
Adão dolorido
aleijão de costela
depois da dentada
pulou da galhada
mirou pelo guizo
de corno aprumado
e o forrobodó
foi aquiprocado
sem arma de fogo
que isso não tinha
na força das mãos
vergou a danada
mostrou para o bicho
o que era peçonha
que em terra de macho
buliu vai pro tacho
deu nó na tinhosa
assim diz o causo
falado e corrido
matou foi de fome
Adão foi pra roça
por causa da cobra
diz velho ditado
que pouco me engana
a aranha faceira
tão cheia de pernas
bichinho ordinário
caiu nesse mundo
finou-se amarrada
a cobra teúda
e Adão se perdeu
foi atrás da peluda
17 julho 2007
113
15 julho 2007
112
14 julho 2007
111
06 julho 2007
110
04 julho 2007
109
30 junho 2007
108
27 junho 2007
25 junho 2007
106
105
20 junho 2007
104
Prisma
Música: Floriano Villaça
Letra: Rogerio Santos
tece o céu quando escurece
pomos matizes na noite
tão azuis as constelações
turmalinas lapidadas
ajeitando a madrugada
para o olhar da minha amada
e o amor dentro da alma
deixam prisma de arco-íris
simbiose delicada
joga luz por toda estrada
para o olhar da minha amada
no silêncio desse encontro
guarda o brilho do desejo
deixa trilha pontilhada
feito cauda de cometa
meu olhar segue esse rastro
através da longa estrada
corre estrela por estrela
até virar madrugada
na manhã da minha amada
e se em plena madrugada
através da longa estrada
guarda o brilho do desejo
até virar madrugada
feito cauda de cometa
meu olhar segue esse rastro
no silêncio desse encontro
corre estrela por estrela
deixa trilha pontilhada
na manhã da minha amada
18 junho 2007
103
Embate Gastronômico
ROGERIO SANTOS
Tenho um amigo vegetariano
Vejam vocês que aventura diferente
Logo comigo, um cara suburbano
Que sempre soube onde por os dentes
Me convidou para uma feijoada
Em sua casa lá na Vila Madalena
Eu tava duro e todo endividado
Sem pixo prá passagem eu vendi a antena
O gente fina prometeu-me emprego
Uma cutruca lá de balconista
Eu fui armado de pente Flamingo
E de Gomex com panca de artista
Experiência tenho de açougueiro
Matei cachorro a grito, vendi churrasquinho
Cheguei bem cedo com o meu currículo
Um olho no emprego e outro no petisco
Como era fraca aquela caipirinha
E o lero-lero foi só aumentando
O meu estomago não é de ferro
E minha fome me contrariando
Me senti em convenção de escoteiro
Achei estranho aquele lance todo
Topava um trampo até de coveiro
Que pelo menos eu tava almoçando
Mas foi um choque aquele acepipe
Com cara de torresmo mas com cheiro estranho
Num pururuca e nem tem os pêlo
Saquei a fita que tava rolando
Me expricaro que era de outro níver
Que era fino, coisa de muderno
Prá ser sincero nunca vi aquilo
Nêgo na fejuca envergando terno
O meu esôfago tava fechando
Sai dos trilhos, cheguei na panela
Foi quando vi que a carne de porco
Parecia esponja de lavar tigela
Em feijoada vegetariana
Tofu torresmo e tofú tô mesmo
Eu nunca vi porco feito de soja
E minha fome continua a esmo
14 junho 2007
102
23 maio 2007
101
12 maio 2007
100
29 abril 2007
99
( foto by Rogério Castro )
Serra do Cipó
ROGERIO SANTOS
a vegetação rupestre
ganha força na intempérie
um grito na face da pedra
no sopro constante do vento
um sabor de gabiroba
no gosto da chuva que verte
beijando esses poros perenes
formando pequenas piscinas
o ciclo da vida é inscrito
parindo um jardim de bromélias
prá floração de catavento
as cascatas são artérias
27 abril 2007
98
22 abril 2007
97
Nasce um poema
ROGERIO SANTOS
Um poema nasce
na letra,
na agulha,
na linha,
na fresta
nasce no pê,
nasce no a;
na pá
nasce do tê
de quem erra;
na terra
"em","a","na",
aros e elos,
palavra que emana
nasce da paz,
nasce na luz;
fotossíntese
retrato sutíl
sem arestas
ou estas
em fúrias domadas
fecundar um poema
exige trama de sons;
de eis, de ás,
de ois, de seis;
rir em erres abstratos;
sorveres, absorveres
perceber que a chuva
é - chúúúúú-vaaaaa !
palavra molhada de som
a escorrer pelas frestas do corpo
destilar as trovas
da trovoada,
navegar, rebuscar,
hai-cais
bater uma laje;
poema concreto
:um grande soneto
faz-se na face,
velando-se
o sono de um neto
10 abril 2007
96
28 março 2007
95
Liga Pontos
ROGERIO SANTOS
não sei porque alguns insistem
numa luta contra o tempo
ele, tão bom barqueiro
nos nina em seu travesseiro
nos vela os primeiros passos
abre um leque de sabores
atrela na vida os amores
é um deus da simplicidade
um vivente mais atento
aliado em cada fase
aprende a dançar no tempo
brinda a vida, coisa rara
quem se apega, vão, ciúmento
fatalmente perde tempo
porque o bem maior que fica
é pontilhar seus momentos
até que a vida permita
até que a morte os separe
18 março 2007
94
Revoada
ROGERIO SANTOS
Se o Martim é pescador
É João quem é de barro
Quem te beija é Beija-flor
Então quando pintas, silgo !
Sabes que te Quero-Quero
Vem Saíra-Sete-Cores
Carcará, Tucano-Toco
Rolinha-Fogo-Apagou
Pelos céus da minha terra
Quis dançar com Tangará
Mas bati com Trinca-Ferro
Com seu Bico-de-Pimenta
Foi chegando um Cardeal
Com um bando de Bicudos
Eis que Saí-Amarelo
Deu siricutico-tico...
17 março 2007
93
92
Dança de Outono
ROGERIO SANTOS
por entre as paredes soturnas
dos prédios da Avenida Paulista
o som do vento passeia sorrateiro
pelo leito desse cânion urbano
onde vidas deslizam feito água
ninguém se dá conta dos passos
é o outono que pede licença
bate à porta da margem direita
e reinicia seus rituais de dança
na blusa fina da elegante menina
a piscadela derradeira
dita o ritmo da música no salão
a chuva que castiga a cidade
no final do mês de março
carrega de lágrimas o verão
91
08 março 2007
90
Velocidade de escape
ROGERIO SANTOS
carrego o brilho de sete luas
uma cauda de poeira prateada
sou um vagabundo do espaço
cruzando a noite no céu da tua boca
salivando amalgamada tinta
das estrelas que caem sem brilho
no campo fértil de um buraco negro
onde a limite é a pura sevícia
contra teu corpo galáxia mistério
prossigo numa elíptica viagem
passageiro espaçonave meteoro
refém da gravidade fora-da-lei
07 março 2007
89
06 março 2007
88
Atraque
Rogerio Santos
não há nesse mundo disfarce possível
nem lenço nem pelo nem pele nem nada
sem choro sem riso sem máscara civil
sem pálpebras jorram teus olhos da alma
não sirva-se assim tanto desconfiada
qual fossem sinais luminárias de albergue
com lentes escuras mudando a prumada
meus olhos bem sabem que a eles persegues
a réplica o tétrico a bruma que tarda
fustigam por dentro no gozo contido
inundam-se fendas nas ventas da alma
separam-se pernas desnudam sentidos
a dança o doce frescor de florada
um raro relógio calado no grito
a língua se banha na terra molhada
um peixe mergulha senhor do infinito
04 março 2007
87
Tapete Mágico
ROGERIO SANTOS
Lá pelas bandas de Minas
No meio dos mares-de-morros
Dizem que mora um caboclo
Que fez um tapete que voa
Não tenho cara de besta
Tenho ouvido calejado
E fui conferir ligeiro
O dono desse legado
Já sabia onde era Minas
Por famoso doce e queijo
Pelas obras mais diversas
Por contos de sertanejos
E pelas belas mulheres
Que abundam por suas ruas
Dizem que são mais de dez
Pra cada homem que atua
Famoso na região
Ouvi dizer que esse tal
Tinha por Patrocínio
A sua terra natal
Mas será o Benedito?
Fazer tapete que voa?
De fato não acredito
Mas tinha ouvido uma loa
E mineiro tem um ritmo
Que segue curso de rio
E rio só é verdadeiro
É água dançando no cio
Quando o nativo proseia
É forte que nem cachoeira
Mas se fala brando e lento
Vê de longe a cabeceira
É soneca e pasmaceira
Depois de uma cachacinha
É viola e tamborzada
Na festa da padroeira
E falando em padroeira
Procurei por Patrocínio
E achei coisa engraçada
( Já viu cabaço de freira? )
O mapa das terras mineiras
Parece uma máscara adunca
Típica cara de bruxa
Num carnaval de Veneza
E Patrocínio onde fica?
Bem no meio do nariz
Por onde circula esse aroma
Carregado de beleza
Eu gostei logo de cara
Dos pés de jabuticaba
Das ladeiras e botecos
Um quintal que não se acaba
Perguntei pela cidade
Pra toda gente que vi
Se ainda morava ali
O dono da habilidade
E toda gente dizia:
- Amigo, ele aqui vivia
Até que num dia calmo
Partiu com o seu tapete !
Procurei pela família
Até deparar no portão
Era o lar de Dona Diva
A oficina do artesão
Foi lá que fiquei sabendo
Das estórias do menino
Que desde muito bem cedo
Dominou tecido fino
Trabalhou nesse projeto
Com astúcia de arquiteto
Costurando ponto a ponto
O mais requintado tapete
A linha era de palavras
O tear de folhas brancas
A tinta de madrugadas
Lembranças de sua gente
Num dia de revoada
Partiu com a passarada
Foi poesia pelas nuvens
Ganhou mundo na tangente
( Em homenagem ao poeta mineiro Nathan de Castro )