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10 agosto 2007

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Meio-Fio
ROGERIO SANTOS

Asfalto
A água bate forte
Busca o fundo do vale
Desce ladeira
Bueiro entupido
Uma criança brinca na corredeira
Com barquinho de papel

A água não escolhe caminhos
Arrasta o barquinho
Arrasta a criança
Cruel geografia
Da vida por um fio

Da janela do edifício
Uma família acompanha
Arrasta os olhos
Não pode fazer muita coisa
Uma lágrima no ar

Sirenes e luzes
Aprontam a luta
Na boca da noite
Pressentindo a escuridão
A cidade grita
Atrai carniceiros

Entre nuvens indecisas
Lamúrias, lamentos
O tempo melhora
Mas não para todos

O rio arrasta uma vida
Triste canto do tiê

2 comentários:

Carlos Henrique Leiros disse...

É triste ver um rio agonizar, após anos e anos de luta inglória.
Vidas sucumbem no grande sorvedouro cotidiano...
Mas a poesia, sobretudo, encanta.
Abraço, Rogério.
Carlos

Tião Martins disse...

Olá Rogério, muito bom o seu trabalho. Gostei especialmente do "pecado original".
Abraço!